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Entrevista: Romel Pinheiro

Por Cidadania-e - Tatiana Wittmann   19 de julho de 2002
Aos 28 anos, o administrador Romel Pinheiro, já soma várias experiências no terceiro setor. Começou a se envolver com movimentos sociais quando ainda estava na faculdade, onde incentivou e realizou projetos para organizações não-governamentais através da Empresa Junior na qual trabalhava. Mais tarde participou do projeto Universidade Solidária, realizando assessorias em comunidades no Pará. Em 1999 fundou, junto com o também administrador Rui Mesquita, a Academia de Desenvolvimento Social - uma organização da sociedade civil, sem fins lucrativos, que tem como missão promover o desenvolvimento da gestão das organizações do terceiro setor. Hoje, Pinheiro é mestrando em administração pública na Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) e professor da Fundação de Ensino Superior de Olinda. Nesta entrevista ele fala sobre o novo projeto da Academia: a Incubadora Social para Ação Jovem.

Cidadania-e - O que é a Incubadora Social para Ação Jovem? Romel Pinheiro - É um programa criado pela Academia de Desenvolvimento Social, desenvolvido por jovens e para jovens, que visa contemplar uma necessidade que é inerente à juventude: espaço, voz e oportunidade de construção de um mundo melhor. A Incubadora Social para Ação Jovem vai apoiar jovens empreendedores sociais da região metropolitana do Recife a melhorarem iniciativas e projetos de cunho social, cultural ou ambiental, sem fins lucrativos, por eles criados e liderados.

Cidadania-e - O que motivou a criação da Incubadora e quais são seus objetivos? Romel Pinheiro - A Academia é uma organização que nasceu do movimento juvenil. Tanto eu quanto o meu sócio, Rui Mesquita, viemos de movimentos estudantis que trabalhavam com a questão social. O que nos inquietava era a forma como os projetos desenvolvidos para jovens eram trabalhados nas políticas públicas, tanto pelas organizações não-governamentais como pelo governo. O jovem na grande maioria das vezes é tratado como alguém em situação de risco ou apenas como beneficiário destes projetos. Acreditamos que estas posições são um desperdício, dada a força da juventude. Para nós a juventude possui importantes características que não são levadas em conta: a força de construir algo, a força da mudança, a inquietação sobre a sociedade de hoje e suas injustiças.

Diante destas crenças pensamos em desenvolver um projeto que contemplasse esta necessidade. Percebemos que um grande número de jovens que pensam como nós já atuavam buscando mudar o seu mundo. São jovens empreendedores que, através de movimentos e projetos sociais, buscam melhorar nossa sociedade. Para jovens assim foi criado este projeto.

A proposta é capacitar, a cada ano, vinte jovens empreendedores sociais, com idade entre 18 e 28 anos, baseados em um dos municípios da região metropolitana do Recife que atuamos - Recife, Olinda, Jaboatão dos Guararapes, Camaragibe, Paulista e Cabo de Santo Agostinho, independentemente do seu sexo, raça, nacionalidade, credo, condição social, nível de formação acadêmica ou amplitude e dimensão do projeto.

Cidadania-e - Que tipo de apoio e benefício os jovens empreendedores sociais vão receber?

Romel Pinheiro - Durante o período mínimo de um ano os jovens empreendedores sociais terão a sua disposição cinco benefícios, que ajudarão a desenvolvê-los como cidadãos e como protagonista de mudanças sociais, além de oportunizar formas de alavancar o projeto desenvolvido da maneira mais profissional possível. No primeiro ano do projeto, o jovem recebe o apoio total. A dimensão do apoio depois disso vai depender do grau de desenvolvimento do projeto.

Os cinco componentes são: infra-estrutura física para o trabalho, escritório com todos os serviços de um escritório convencional; capacitação em gestão social de 240 horas durante um ano; assessoria técnica junto aos projetos e um mentor, que será alguém de relevante importância no 3º setor; pequena bolsa auxílio para despesas operacionais do projeto por um ano, no valor de 120 reais; e inserção numa rede de relacionamentos através de encontros e workshops.

Cidadania-e - Como será realizada a seleção destes jovens? Qual o perfil procurado?

Romel Pinheiro - O sucesso da Incubadora está na seleção. Acreditamos que por mais que dermos o apoio, o grande diferencial está na capacidade empreendedora dos jovens. Nossa primeira etapa está em tornar conhecido, na região onde atuaremos, tanto o problema que estamos trabalhando como a proposta de solução do projeto. Para tanto iremos trabalhar com uma ampla campanha de divulgação em massa e principalmente um trabalho de comunicação bem segmentada nas ONGs que trabalham com jovens e também em escolas. Queremos chegar nos espaços onde jovens estão presentes e onde eles estão se mobilizando.

Serão selecionados empreendedores sociais, ou seja, jovens com idéias inovadoras que podem ser reproduzidas em qualquer lugar onde exista um problema social semelhante. Eles devem possuir entre 18 e 28 anos, ter garra, motivação, comprometimento e disposição de protagonizar reais mudanças sociais, locais ou globais de forma profissional. É preciso que ele more na região metropolitana de Recife, pois nossas atividades são presenciais.

O interessado deve preencher um questionário divido em três partes: informações sobre as motivações pessoais em relação ao projeto, informações sobre a idéia, e a sua capacidade de mobilização. Em uma segunda etapa os candidatos selecionados serão entrevistados.

Cidadania-e - Que outros projetos são desenvolvidos pela Academia de Desenvolvimento Social?

Romel Pinheiro - A Academia desenvolve outros projetos nas suas três áreas de atuação: informação, formação e intervenção. Entre os projetos estão o nosso site (www.academiasocial.org.br), um clipping de notícias do terceiro setor, o Ciclo de Debates do Terceiro Setor - que acontece uma vez por mês uma diferente universidade do Recife, e cursos de extensão oferecidos através do Núcleo de Gestão Social.

Cidadania-e - De que forma os jovens empreendedores sociais podem fazer diferença na sociedade brasileira?

Romel Pinheiro - O Brasil possui um déficit social e precisa de pessoas que queiram mudar isso. Os jovens podem fazer parte desta marcha para a mudança, tanto nos movimentos sociais como dentro do próprio Estado.

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