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Associações põem a arte no combate à exclusão social

Por Karla Dunder/OESP   15 de agosto de 2002
São Paulo - A arte vista como um instrumento para educar e integrar crianças que convivem com a pobreza e a violência em favelas e periferias. Essa concepção une a ação do Edisca - Escola de Dança e Integração Social para Crianças e Adolescentes - em Fortaleza e o Projeto Sambalelê, da ONG Corpo Cidadão, em Belo Horizonte.

Para as duas organizações, a idéia não é formar músicos, bailarinos ou artistas, mas sim ampliar o universo cultural de cada criança, utilizando jogos e brincadeiras que desenvolvem criatividade e habilidades. Meninos e meninas têm acesso a informações e novas linguagens, além do acesso à assistência médica, odontológica, nutrição e vale-transporte.

No final do ano, haverá a apresentação de um espetáculo. "No entanto, esse não é o nosso foco; o mais importante está na experiência que essas crianças adquiriram ao longo do tempo. Discutir se o que fazemos é arte ou não é secundário, o mais importante está no que eles vivenciaram, no contato com a arte, esta deve ser compreendida como um instrumento para o desenvolvimento humano. A importância não está no resultado, mas sim em todo o processo", diz Dora Andrade, diretora do Edisca.

O grupo, fundado há dez anos, utilizava uma pedagogia centrada no balé. O programa cresceu, passando a outras linguagens como o canto e o teatro. "Percebemos a importância do trabalho com as famílias e a alfabetização de adultos", diz. Grupos de convivência para pais e alunos são mantidos para promover atividades para toda a família, como oficinas de arte e uma série de debates que tratam de temas importantes para toda a comunidade.

"Atualmente, pretendemos atuar em outros municípios do sertão." A idéia é ampliar a ação do Edisca em parceria com outras organizações com a meta de atingir 7 mil pessoas. A proposta, desde a fundação, segundo os organizadores, consiste em combater a exclusão social, a miséria e oferecer oportunidades aos jovens talentos.

O Edisca atende uma média de 400 crianças por ano, meninos e meninas de 7 a 17 anos, moradores de favelas e da periferia de Fortaleza, vindas do Conjunto Palmeiras, Grande Bom Jardim, Mucuripe e Dendê.

Para a sua manutenção o grupo conta com a venda dos ingressos de espetáculos, de CDs e camisetas e de uma rede de parceiros, como o governo e instituições e fundações, como a Abrinq, Ayrton Senna e Unesco. As meninas que compõem a companhia já fizeram diversas viagens, até mesmo para o exterior, como Áustria e França. "Em Paris, participamos de um seminário sobre a situação das crianças em todo o mundo. A discussão girou principalmente sobre a questão da fome. Há problemas em diversos lugares, procuramos saídas." As meninas estão arrumando as malas e, em novembro, voltam a embarcar para a França e Alemanha. Do dia 30 a 1.º de setembro elas apresentam a coreografia Koi-Guera, em Fortaleza.

O Edisca também foi a fonte de inspiração para integrantes do Grupo Corpo em fundar a organização não-governamental Corpo Cidadão, que atua com o projeto Sambalelê, nascido em 1998, para atender crianças da favela Santa Ifigênia. O grupo age em parceria com entidades como Grupo Fraternidade Irmã Scheila, Associação Querubins e Centro de Integração Martinho/Creche da Serra.

O Sambalelê leva aulas de dança clássica, confecções de instrumentos musicais de percussão com material reciclado, oficina de canto, canto-coral e instrumentalização e capoeira de Angola. "O critério para a escolha dos meninos, no início, era que apresentassem baixíssima renda e dificuldades no rendimento escolar. No começo tivemos grande dificuldade com a falta de disciplina dessa moçadinha, eles vivem em uma realidade sem limites. Hoje, no quinto ano do projeto, estão mais envolvidos e os professores conquistaram a disciplina da turma", diz Miriam Pederneiras. A platéia, acrescenta, também age com mais respeito durante a apresentação dos espetáculos.

Miriam conta que o grupo realizou uma série de reuniões para decidir como tratar esses meninos e meninas e qual a melhor forma de conduzir o projeto. "Decidimos que não importavam os termos artísticos ou técnicos em si, o que valia era a conquista, os estímulos novos. As apresentações funcionam como um incentivo, auxiliam os participantes a verem o que estão aprendendo e aquilo que são capazes de fazer. A arte sensibiliza e traz uma maneira mais aguçada de ver as coisas."

Nos primeiros dois anos do projeto, os participantes eram vistos como problemáticos e havia um estigma negativo entre os meninos. Com o passar do tempo e as apresentações nos teatros, houve uma mudança de atitude. Conseqüentemente, a procura aumentou. O Sambalelê começou com 120 crianças e atualmente atende 420, de 6 a 18 anos, oferecendo alimentação e atendimento de saúde. Os pais são convidados a participar, os encontros visam ao desenvolvimento do processo de aprendizagem dos seus filhos. O projeto Sambalelê tem patrocínio da Petrobras.

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