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ONGs e indústria petrolífera discutem responsabilidade social

Por Cidadania-e - http://www.cidadania-e.com.br/ - Tatiana Wittmann   23 de agosto de 2002
Quando se pensa na relação entre as organizações não-governamentais (ONGs) e os empresários da indústria petrolífera, logo se imagina os freqüentes confrontos entre os dois. Ao que tudo indica, dez anos depois da Conferência Mundial sobre o Meio Ambiente - Rio 92, esta relação amadureceu e tem tudo para produzir bons frutos. No começo de setembro, organizações governamentais, não-governamentais e empresariais estarão discutindo, em um encontro internacional no Rio de Janeiro, assuntos como responsabilidade social, ética, educação, transformação social, desenvolvimento sustentável e meio ambiente.

“Em confronto não se consegue construir. É preciso que a sociedade civil organizada e os empresários da indústria de petróleo trabalhem juntos na construção de do bem-estar social”, acredita a presidente da Fundação Banco do Brasil, Heloisa Helena de Oliveira. “O fato de o setor petrolífero abrir espaço para o diálogo mostra um amadurecimento e uma disponibilidade para parcerias”, diz.

O coordenador do projeto Reciclagem e Cultura, da Fundação Onda Azul, Flávio Lazaro concorda com Heloisa. “Este encontro faz parte do amadurecimento das duas partes. Está na hora de discutirmos juntos os problemas enfrentados pelo Brasil, principalmente relacionados ao meio ambiente, e fecharmos parcerias”, diz Lazaro. “Isso não significa que vamos esquecer que a indústria petrolífera brasileira tem uma dívida ambiental e social muito grande e que ela deve ser paga. Mas isso não impede que o terceiro setor produza projetos que recebam o investimento das indústrias de petróleo”, completa.

Tanto a Fundação Banco do Brasil - que funciona como agente disseminador de tecnologias sociais, quanto a Fundação Onda Azul - ONG conhecida por seu trabalho de preservação do meio ambiente e pela produção de móveis através da reciclagem de garrafas PETI, estão entre as organizações que vão participar da Arena de Responsabilidade Social do 17o Congresso Mundial de Petróleo, que acontece de 1 a 5 de setembro, na cidade do Rio de Janeiro. “Acredito que este seja um passo importante para aproximarmos todos os atores envolvidos em um desenvolvimento cada vez mais socialmente responsável”, diz o presidente da Repsol YPF e do Comitê Organizador Brasileiro do Congresso, João Carlos De Luca. “Além da Arena, que acontece paralelamente ao evento, o próprio congresso tem como tema a responsabilidade social (Indústria do Petróleo: Excelência e Responsabilidade ao Servir a Sociedade)”, lembra Luca.

A Petrobras, empresa que atua na exploração, produção, refinação, comercialização e transporte de petróleo e seus derivados, no Brasil e no exterior, é a maior patrocinadora do evento. O presidente da empresa, Francisco Gros, ressalta a importância da realização de ações sociais. “Nenhuma empresa moderna pode existir hoje sem ter uma preocupação com o meio ambiente e sem realizar ações de responsabilidade social”, diz Gros. “As empresas têm que ir além dos seus compromissos financeiros, precisam fechar parcerias com a sociedade civil, e integrar seus diversos públicos de interesse”, completa.

Arena de Responsabilidade Social

A Arena de Responsabilidade Social é uma iniciativa inédita do Congresso Mundial de Petróleo, que deve reunir neste ano mais de 30 mil executivos de 90 países diferentes. A programação da Arena conta um uma mostra de projetos inovadores do terceiro setor, com enfoque em responsabilidade social, desenvolvimento sustentável, ética e educação ambiental; e um seminário que vai debater estratégias e ações de desenvolvimento humano e sustentabilidade ambiental. O seminário acontece nas tardes dos dias 2, 3 e 4 de setembro e tem como temas: Responsabilidade Social e Ética, Educação e Transformação Social e Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente.

O representante da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) no Brasil, Jorge Werthein, está entre os participantes do debate Educação e Transformação Social. “Considero essencial a disposição de setores tão fundamentais para a sociedade manterem contato visando a troca de informações e o desenvolvimento de ações no sentido de uma melhoria da qualidade de vida da população”, diz. “A disposição de sentar para conversar expressa a maturidade do empresariado brasileiro com relação à parcela de responsabilidade que cada organização deve ter hoje com a sociedade. Esse tipo de entendimento e de propensão à cooperação é crucial no processo de construção de um modelo de desenvolvimento sustentável que deve ser a base das futuras relações econômicas e sociais”, acredita Werthein.

Já o ambientalista e diretor da Fundação SOS Mata Atlântica, Mário Mantovani, irá participar do debate Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente. “As entidades sempre quiseram dialogar, mas este setor costuma ser muito reticente com as questões ambientais. O que os ambientalistas falavam anos atrás, hoje virou certificação, legislação e, ao que tudo indica, o setor petrolífero está reconhecendo isto”, diz Mantovani. O diretor diz que a Arena faz parte do amadurecimento de uma relação que vem sendo construída há anos. “Não podemos ficar fingindo que o outro não existe, pois quem sai perdendo com isso é o meio ambiente e a sociedade como um todo. Na Arena as ONGs vão fazer uma sintonia fina do que já falam há tempo no que diz respeito aos problemas sociais, econômicos e ambientais; e também vai mostrar como o meio ambiente perdeu com os erros da indústria petrolífera no passado e o que pode ser feito daqui pra frente”, resume.

Até mesmo o Greenpeace, organização ambiental que mais entra em conflito com a indústria petrolífera, estará presente no evento. “Vamos expor nossas posições sobre o setor, falar o que achamos que ele tem que fazer para assegurar a preservação do meio ambiente, e vamos apresentar as demandas e propostas que estamos levando para a Cúpula Mundial de Desenvolvimento Sustentável (que acontece Joanesburgo, África do Sul, de 26 de agosto a 4 de setembro de 2002)”, diz o coordenador internacional da Campanha de Energia do Greenpeace, Benedict Southworth.

A expectativa do Comitê Organizador Brasileiro é de que a Arena permita aos participantes colherem subsídios para aperfeiçoar suas estratégicas e melhorar os resultados das ações empreendidas. Outro objetivo é estimular a disseminação de ações e métodos inovadores com resultados comprovados nas áreas social e ambiental, e incentivar a realização de negócios sócio-ambientais através de novos projetos e parcerias entre empresários e representante das organizações. “Este Congresso será decisivo para repensar o novo papel que as empresas de petróleo devem ter no desenvolvimento econômico e social do ambiente onde atuam”, diz o presidente da Petrobras, Francisco Gros.

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