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Curso da Pastoral Afro capacita 30 lideranças afrodescendentes
Por Correio da Bahia - Adriana Jacob   3 de setembro de 2002
De hoje a quarta-feira, negros vão discutir temas como a importância da
auto-estima
Integrantes da Pastoral Afro preparam nova edição do curso de capacitação de líderes
A cena pode ser conferida todos os dias nas seções de brinquedos de supermercados da cidade. Há bonecas grandes, pequenas, gordas, magras, com corpo de bebê, de criança ou de mulher - como a esbelta Barbie. Com tanta diversidade, só não há bonecas de todas as cores. A grande maioria - quando não todas - é branca e loira. No máximo, aparecem aquelas com cabelos castanhos bem lisos.
O passeio pela seção infantil serve para ilustrar como a discriminação racial é sutil. Com isso, vai prejudicando desde cedo a auto-estima das crianças, que não se vêem retratadas nas bonecas que usam para entrar no mundo do faz-de-conta. Para discutir a auto-estima entre os negros, de hoje à quarta-feira, vai ser realizada mais uma edição do Curso de Capacitação para Líderes da Pastoral Afro. A primeira turma participou da atividade de sexta-feira até ontem.
Para o padre Fidelle Katsan, coordenador da Pastoral Afro e do curso, outros fatores renovam o problema da auto-estima - como a dificuldade do acesso ao trabalho e à educação - que começou com a escravidão. Um dos principais seria a ideologia do branqueamento. "Foi criado um estereótipo de beleza com padrão branco. O negro aparece como feio, os lábios e nariz grossos são rejeitados e o cabelo crespo é considerado ruim. Até nas novelas que gostamos de assistir, somos retratados normalmente com papéis de menor destaque".
O objetivo do curso é capacitar cerca de 30 agentes de várias paróquias e comunidades da cidade para que eles levem esse conhecimento para seu bairro e sua realidade. Uma dessas agentes é Maria Sofia Boaventura, presidente do Grupo de Mães e Amigos de Canabrava e integrante da Paróquia de Nossa Senhora Auxiliadora, que funciona no mesmo bairro. Para ela, não só a questão econômica, mas todos os problemas do dia-a-dia criam o risco do aparecimento da falta de auto-estima. "Por isso acho importante que uma pessoa como eu, que moro e trabalho na comunidade, possa levar para Canabrava essa idéia de que a gente precisa se conhecer profundamente e se aceitar como pessoa sujeita a todos os problemas", diz Maria Sofia.
Vivências - Para desenvolver esse trabalho de conhecimento, foram convidados para comandar as atividades o doutor em filosofia e especialista em teologia e cultura, Pietro Modesto, a doutora em filosofia e teologia Helga Modesto e a teóloga Christiane Hetterich, todos da Alemanha. Apesar da realidade diferente da vida brasileira e de serem brancos, eles garantem que o curso está sendo produtivo. "Não viemos para cá dar palestras, mas fazer uma vivência. A gente trabalha com os grupos a partir de sua própria realidade para que eles se conheçam melhor e passem a se valorizar. E a questão da auto-estima é universal", explica Christiane Hetterich.
Para o padre Fidelle Katsan, o negro tem que dialogar com o povo branco e vice-versa. "Não queremos um gueto de negros. Não podemos catalogar todos os brancos como inimigos. Temos que saber quem está do nosso lado, já que estamos falando de humanidade". Confiante no resultado deste que é o primeiro curso sobre auto-estima promovido pela Pastoral Afro - e que ainda está com inscrições abertas para a turma que começa hoje, às 19h, no Centro Arquidiocesano de Articulação de Pastorais Afro, no Pelourinho -, ele lembra que é preciso pensar em mudar o modelo de educação nas escolas, porque é desde a infância que o problema começa. "Vamos também convidar as mães a comprarem não uma boneca loira, mas negra, para que a criança possa se identificar", diz o padre.
Integrantes da Pastoral Afro preparam nova edição do curso de capacitação de líderes
A cena pode ser conferida todos os dias nas seções de brinquedos de supermercados da cidade. Há bonecas grandes, pequenas, gordas, magras, com corpo de bebê, de criança ou de mulher - como a esbelta Barbie. Com tanta diversidade, só não há bonecas de todas as cores. A grande maioria - quando não todas - é branca e loira. No máximo, aparecem aquelas com cabelos castanhos bem lisos.
O passeio pela seção infantil serve para ilustrar como a discriminação racial é sutil. Com isso, vai prejudicando desde cedo a auto-estima das crianças, que não se vêem retratadas nas bonecas que usam para entrar no mundo do faz-de-conta. Para discutir a auto-estima entre os negros, de hoje à quarta-feira, vai ser realizada mais uma edição do Curso de Capacitação para Líderes da Pastoral Afro. A primeira turma participou da atividade de sexta-feira até ontem.
Para o padre Fidelle Katsan, coordenador da Pastoral Afro e do curso, outros fatores renovam o problema da auto-estima - como a dificuldade do acesso ao trabalho e à educação - que começou com a escravidão. Um dos principais seria a ideologia do branqueamento. "Foi criado um estereótipo de beleza com padrão branco. O negro aparece como feio, os lábios e nariz grossos são rejeitados e o cabelo crespo é considerado ruim. Até nas novelas que gostamos de assistir, somos retratados normalmente com papéis de menor destaque".
O objetivo do curso é capacitar cerca de 30 agentes de várias paróquias e comunidades da cidade para que eles levem esse conhecimento para seu bairro e sua realidade. Uma dessas agentes é Maria Sofia Boaventura, presidente do Grupo de Mães e Amigos de Canabrava e integrante da Paróquia de Nossa Senhora Auxiliadora, que funciona no mesmo bairro. Para ela, não só a questão econômica, mas todos os problemas do dia-a-dia criam o risco do aparecimento da falta de auto-estima. "Por isso acho importante que uma pessoa como eu, que moro e trabalho na comunidade, possa levar para Canabrava essa idéia de que a gente precisa se conhecer profundamente e se aceitar como pessoa sujeita a todos os problemas", diz Maria Sofia.
Vivências - Para desenvolver esse trabalho de conhecimento, foram convidados para comandar as atividades o doutor em filosofia e especialista em teologia e cultura, Pietro Modesto, a doutora em filosofia e teologia Helga Modesto e a teóloga Christiane Hetterich, todos da Alemanha. Apesar da realidade diferente da vida brasileira e de serem brancos, eles garantem que o curso está sendo produtivo. "Não viemos para cá dar palestras, mas fazer uma vivência. A gente trabalha com os grupos a partir de sua própria realidade para que eles se conheçam melhor e passem a se valorizar. E a questão da auto-estima é universal", explica Christiane Hetterich.
Para o padre Fidelle Katsan, o negro tem que dialogar com o povo branco e vice-versa. "Não queremos um gueto de negros. Não podemos catalogar todos os brancos como inimigos. Temos que saber quem está do nosso lado, já que estamos falando de humanidade". Confiante no resultado deste que é o primeiro curso sobre auto-estima promovido pela Pastoral Afro - e que ainda está com inscrições abertas para a turma que começa hoje, às 19h, no Centro Arquidiocesano de Articulação de Pastorais Afro, no Pelourinho -, ele lembra que é preciso pensar em mudar o modelo de educação nas escolas, porque é desde a infância que o problema começa. "Vamos também convidar as mães a comprarem não uma boneca loira, mas negra, para que a criança possa se identificar", diz o padre.