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ONG avalia ação de menores no crime
Por Folha de São Paulo - ANTÔNIO GOIS   11 de setembro de 2002
Um estudo da ONG Iser (Instituto de Estudos da Religião) sobre a
participação de crianças no crime organizado mostra semelhanças entre a
atuação de menores de 18 anos no tráfico no Estado do Rio de Janeiro e de
menores combatentes em áreas de guerra.
A pesquisa, coordenada pelo antropólogo Luke Dowdney e divulgada ontem em seminário da ONG Viva Rio, mostra também que as estatísticas de homicídios no Estado do Rio são mais elevadas do que as de Estados dos EUA com gangues e comércio de drogas intensos, como Nova York, Califórnia e Washington.
Outra conclusão é que o número absoluto de homicídios por armas de fogo registrado no Rio é superior ao de países que vivem ou viveram recentemente conflitos militares, como Israel, Colômbia, Serra Leoa e Iugoslávia.
Os dados constam do estudo "Crianças Combatentes em Violência Armada Organizada". Uma das semelhanças apontadas entre os menores no tráfico e os menores soldados é que ambos recebem um "soldo". No Rio, o "soldo" pode ser um salário ou uma comissão.
Outra característica comum é a hierarquia. Os menores no Rio recebem armas e exercem funções estabelecidas pelos superiores, tendo chance de ascender na hierarquia do crime organizado.
Uma diferença clara entre os menores do Rio e de países em guerra é que, no Estado, quase a totalidade das crianças ingressou voluntariamente no tráfico, para ganhar dinheiro e ter status.
Foram ouvidos 25 jovens menores de idade ou que completaram recentemente 18 anos e que trabalham no tráfico, três ex-traficantes, cem jovens (16 a 24 anos) moradores de favela e 120 adultos.
As entrevistas com os menores traficantes foram feitas em quatro favelas onde eles trabalhavam. Segundo Dowdney, os pesquisadores chegaram aos jovens por meio de lideranças comunitárias. Os demais jovens e adultos participaram de grupos de discussão promovidos pelo Iser ou preencheram questionários.
"Todos na favela estão preocupados com a entrada de menores no tráfico. A gente fez a pesquisa no local onde os menores trabalhavam porque queríamos mostrar a realidade", diz Dowdney.
A comparação das estatísticas do Rio com as de Nova York, Califórnia e Washington teve como objetivo mostrar que a existência do tráfico de drogas e a formação de gangues não explicam os altos índices de criminalidade, já que o volume de drogas negociado nos EUA é maior. "No Rio, há fatores como pobreza, falta de participação do Estado, exclusão social e relação conturbada entre a polícia e a comunidade que não são encontrados nos demais Estados", afirmou.
A comparação das mortes por arma de fogo no Rio com as de países em guerra teve como meta mostrar que os conflitos entre traficantes, principalmente, e a polícia, de forma secundária, causam mais vítimas.
Apesar da comparação, os pesquisadores afirmam que a situação do Rio não pode ser considerada como "estado de guerra" porque o Estado não é objeto deliberado de ataque. As facções criminosas têm como objetivo prosperar economicamente, e não substituir ou combater o Estado.
A pesquisa, coordenada pelo antropólogo Luke Dowdney e divulgada ontem em seminário da ONG Viva Rio, mostra também que as estatísticas de homicídios no Estado do Rio são mais elevadas do que as de Estados dos EUA com gangues e comércio de drogas intensos, como Nova York, Califórnia e Washington.
Outra conclusão é que o número absoluto de homicídios por armas de fogo registrado no Rio é superior ao de países que vivem ou viveram recentemente conflitos militares, como Israel, Colômbia, Serra Leoa e Iugoslávia.
Os dados constam do estudo "Crianças Combatentes em Violência Armada Organizada". Uma das semelhanças apontadas entre os menores no tráfico e os menores soldados é que ambos recebem um "soldo". No Rio, o "soldo" pode ser um salário ou uma comissão.
Outra característica comum é a hierarquia. Os menores no Rio recebem armas e exercem funções estabelecidas pelos superiores, tendo chance de ascender na hierarquia do crime organizado.
Uma diferença clara entre os menores do Rio e de países em guerra é que, no Estado, quase a totalidade das crianças ingressou voluntariamente no tráfico, para ganhar dinheiro e ter status.
Foram ouvidos 25 jovens menores de idade ou que completaram recentemente 18 anos e que trabalham no tráfico, três ex-traficantes, cem jovens (16 a 24 anos) moradores de favela e 120 adultos.
As entrevistas com os menores traficantes foram feitas em quatro favelas onde eles trabalhavam. Segundo Dowdney, os pesquisadores chegaram aos jovens por meio de lideranças comunitárias. Os demais jovens e adultos participaram de grupos de discussão promovidos pelo Iser ou preencheram questionários.
"Todos na favela estão preocupados com a entrada de menores no tráfico. A gente fez a pesquisa no local onde os menores trabalhavam porque queríamos mostrar a realidade", diz Dowdney.
A comparação das estatísticas do Rio com as de Nova York, Califórnia e Washington teve como objetivo mostrar que a existência do tráfico de drogas e a formação de gangues não explicam os altos índices de criminalidade, já que o volume de drogas negociado nos EUA é maior. "No Rio, há fatores como pobreza, falta de participação do Estado, exclusão social e relação conturbada entre a polícia e a comunidade que não são encontrados nos demais Estados", afirmou.
A comparação das mortes por arma de fogo no Rio com as de países em guerra teve como meta mostrar que os conflitos entre traficantes, principalmente, e a polícia, de forma secundária, causam mais vítimas.
Apesar da comparação, os pesquisadores afirmam que a situação do Rio não pode ser considerada como "estado de guerra" porque o Estado não é objeto deliberado de ataque. As facções criminosas têm como objetivo prosperar economicamente, e não substituir ou combater o Estado.