Notícias

MEC doa, mas alunos não levam livros para casa

Por Renata Cafardo / O Estado de São Paulo   11 de setembro de 2002
São Paulo- Mal-entendidos, problemas de divulgação, conceitos arraigados. Tudo isso acabou impedindo que muitos dos livros infanto-juvenis distribuídos pelo Ministério da Educação (MEC) fossem doados aos alunos do ensino fundamental público. O programa, lançado em março, pretendia incentivar o hábito da leitura em casa. Os livros não saíram das escolas.

Com as obras, montamos os cantinhos da leitura, pequenas bibliotecas em todas as salas de aula", diz a vice-diretora da escola estadual Júlio de Faria e Souza, na zona norte da capital, Marilena Fenaroli. Apesar da iniciativa louvável, a idéia do programa Literatura em Minha Casa era a de que o livro passasse a fazer parte do cotidiano do estudante e de seus parentes.

Segundo ela, só três meses depois o MEC avisou qual deveria ser o destino das obras. "Não dava mais para tirá-las de todas as classes e dizer que pertenciam só a alguns alunos."

Um dos motivos da confusão é o fato de os livros terem sido planejados apenas para crianças das 4.ª e 5.ª séries. Isso porque, segundo o ministério, é nessa fase que começam a ter fluência na leitura e podem cultivar o hábito. Mas todas as escolas têm alunos de outras séries. Portanto, no entendimento dos diretores, a quantidade de livros parecia insuficiente para todos os estudantes da unidade e isso criava um mal-estar.

Um dos motivos da confusão é o fato de os livros terem sido planejados apenas para crianças das 4.ª e 5.ª séries. Isso porque, segundo o ministério, é nessa fase que começam a ter fluência na leitura e podem cultivar o hábito. Mas todas as escolas têm alunos de outras séries. Portanto, no entendimento dos diretores, a quantidade de livros parecia insuficiente para todos os estudantes da unidade e isso criava um mal-estar.

Na escola Visconde de Taunay, a solução encontrada foi dar uma coleção a cada professor - de 1.ª a 4.ª série - para que eles pudessem trabalhar com seus alunos. Os 700 estudantes da escola foram divididos em grupos, assim todos poderiam ter contato com os novos livros. Além disso, a coordenadora Sueli Moreta só soube pela reportagem que as obras deveriam ser doadas.

O programa tem 30 títulos, divididos em seis coleções de cinco livros cada. "Desde o início do ano, mandamos vários ofícios avisando o procedimento correto", diz Mônica Messenberg secretária-executiva do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), responsável pela compra e distribuição dos livros no MEC. Mas, segundo ela, na caixa em que foram mandadas as obras para as escolas não foi possível colocar nenhuma instrução.

RESISTÊNCIA

Pesquisas da FNDE já confirmam que muitas escolas não doaram os livros às crianças. "O problema é a resistência cultural. Há diretores que dizem que não têm como explicar aos outros alunos que os livros são apenas para a 4.ª e 5.ª séries e por isso não fazem a doação", afirma Mônica. "Outros acham que os livros serão estragados se forem dados às crianças."

A mãe de Janaína Cruz, de 11 anos, guardou com cuidado o primeiro livro da filha em uma caixa. "Um dia quero ler para o meu sobrinho", conta a menina, que estuda na escola Prof. João Boemer Jardim. Só depois de os alunos lerem "A Formiguinha e a Neve" e responderem a um questionário, a professora deixou que a obra fosse levada definitivamente para casa. Menos mal. Este mês, Janaína e seus colegas estão às voltas com o livro de poesias, que inclui Mário Quintana e Olavo Bilac. "Se tivesse dado todos de uma vez, poderiam ter sido colocados debaixo da cama e esquecidos", justifica a professora Nadir de Souza.

Na sala ao lado, os livros também estão sendo trabalhados aos poucos, mas a professora pede para que os alunos devolvam depois de terminarem a leitura. E as histórias ilustradas de Ruth Rocha, João Ubaldo Ribeiro e Luis Fernando Veríssimo, entre outros, voltam para o armário da classe. "No ano que vem, podemos não receber mais livros e os novos alunos ficariam sem nada", diz Regina Ribeiro.

A própria etiqueta da distribuidora, impressa na capa de cada obra, confundiu os diretores das escolas. Ela diz: FNDE - Biblioteca da Escola. Com menos destaque, está o nome do programa Literatura em Minha Casa. Em cinco escolas visitadas, só uma tinha feito o procedimento correto.

O MEC iniciou uma campanha na Voz do Brasil para explicar que os 60 milhões de livros enviados a 139 mil escolas do País têm de ser doados. Também pretende fazer propaganda na televisão. Em novembro, chega às escolas uma nova remessa de livros (para os alunos da 4.ª série, em 2003). Pais de crianças que não receberam seus cinco livros devem ligar para 0800-616161.

Comentários dos Leitores