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Projetos de alfabetização precisam mudar, afirma diretor da Unesco

Por Marcos de Moura e Souza / O Estado de São Paulo   11 de setembro de 2002
São Paulo- O Brasil precisa ampliar e redefinir seus programas de alfabetização de jovens e adultos se quiser mudar a realidade de 17,6 millhões de pessoas - 12,8% da população - que ainda não sabem ler nem escrever. A avaliação é de Adama Ouane, diretor do Instituto de Educação da Unesco, órgão voltado para a alfabetização de pessoas com mais de 15 anos.

Entusiasta do Programa Alfabetização Solidária - organização não-governamental custeada pelo governo federal e pela iniciativa privada -, Ouane classifica o projeto como "notável", mas diz que o Brasil precisaria agora criar ações diferenciadas de educação. O índice de analfabetismo caiu de 19,7%, em 1991, da população para 12,8%, em 2000.

Depois de chegar à média de 85% de alfabetização, os países em desenvolvimento têm mais dificuldade em atingir a parcela residual da população de analfabetos", diz ele. Para lidar com esses 15%, Ouane afirma que os programas padronizados não são mais tão eficientes e em seu lugar devem surgir programas alternativos, um para cada realidade.

O analfabetismo nessa faixa residual se explica de diversas formas, diz Ouane. São pessoas com problemas de saúde, que vivem em locais isoldados, que vêm de famílias que não estimulam os filhos a estudar.

Ouane participou ontem do primeiro dia da 3.ª Semana da Alfabetização, promovida pelo programa brasileiro em São Paulo. O evento deve reunir 1.500 participantes, entre representantes de universidades e profissionais ligados a projetos de alfabetização em 25 países.

Iniciativas- Segundo a superintendente-executiva do Alfabetização Solidária, Regina Esteves, uma das iniciativas que estão sendo adotadas para atingir a parcela, apontada pela Unesco como residual, é a mobilização de organizações comunitárias nos grandes centros que ajudam a atrair jovens e adultos analfabetos.

O Alfabetização Solidária formará este ano 1,2 milhão de pessoas em todo o País, elevando para 3,6 milhões o número de alfabetizados em seis anos de programa. Premiado internacionalmente, o programa já foi adotado em cinco países.

Ouane diz que os resultados do Alfabetização Solidária o colocaram entre os cinco melhores programas do mundo. À sua frente estão projetos na China (que em uma década reduziu o número de analfabetos de 234 milhões para 60 milhões), na Índia e no Equador. A Namíbia, lembra Ouane, também fez muito nessa área. Apesar do sucesso, o Brasil ainda tem uma das piores taxas de analfabetismo da América Latina.

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