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A democratização da informática
Por Jornal Valor/Rodrigo Baggio   23 de outubro de 2001
Quando o Comitê para Democratização da Informática iniciou suas atividades,
em 1995, tinha como horizonte a abertura de mais 5 ou 6 Escolas de
Informática e Cidadania (EIC) além da pioneira na comunidade Santa Marta, no
Rio de janeiro. Não imaginávamos cruzar as fronteiras do estado e muito
menos do país. Hoje, seis anos depois de instalada a primeira escola, a
proposta de inclusão social através da capacitação em novas tecnologias
espalha-se por todo Brasil e avança em direção a outros países da América
Latina e até mesmo em outros continentes.
Aliás, temos uma história curiosa para contar. A expansão internacional do CDI iniciou-se justamente por uma nação com altíssimo nível de avanço tecnológico. A abertura do CDI-Japão teve o objetivo primeiro de captar computadores e enviá-los ao Brasil para sua reciclagem e reutilização. Mas logo em seguida os coordenadores daquele comitê perceberam que também tinham seus excluídos digitais: os imigrantes asiáticos que se deslocam ao Japão para tentar a sorte no mercado de trabalho e não conseguem emprego justamente pela baixa qualificação. Então surgiu, em 1999, a primeira Escola de Informática e Cidadania Internacional.
Mas a replicação do modelo desenvolvido no Rio de Janeiro começou bem antes. A primeira cidade a instalar um CDI foi a pequena e pacata Além Paraíba, em Minas Gerais. Hoje, 10% da população já foi capacitada pelo CDI. Hoje, o CDI está presente em 19 estados brasileiros e em outros 5 países. Além do Japão, temos comitês no México, Colômbia, Uruguai e Chile, em um total de 346 EICs, sendo 321 no Brasil e 25 no exterior.
Estou fazendo toda esta retrospectiva para falar sobre um importante evento que organizamos neste final de semana: o Encontro Regional e Internacional de CDIs. O encontro, que está em sua terceira edição, tem como objetivo aproximar todas as experiências mantidas por cada CDI e trocar informações sobre a metodologia, dinâmicas de ensino e captação de recursos. Este ano tivemos uma expressiva presença de representantes de diversos comitês de todo o Brasil e também do exterior: Chile, Uruguai e México enviaram seus coordenadores.
Os três dias de evento foram riquíssimos e me deixaram bastante impressionado com a variedade de soluções encontradas por cada CDI e pelo sucesso da replicação da metodologia do CDI. De Manaus à Porto Alegre empreendedores sociais vem conseguindo levar a democratização das novas tecnologias para as comunidades de baixa renda das capitais do país, assim como para os mais afastados rincões.
O CDI Pará, por exemplo, conseguiu levar a inclusão digital para dois pontos isolados daquele estado. Moradores do povoado de Muaná, na Ilha de Marajó, tem hoje acesso à informática e ao desenvolvimento da cidadania. Esta escola conseguiu em menos de seis meses de atividade formar 105 alunos e atualmente conta com outros 180 inscritos. Dois deles são os irmãos Elder e Jairo Bezerra de Melo, que para atenderam ao curso têm de remar 4 horas e pedalar outros 30 minutos para chegar até aquela EIC.
O CDI-Pará também instalou outra escola para a população ribeirinha do Rio Madeira. Os habitantes da cidade de Manicoré podem hoje se capacitar em ferramentas computacionais e através delas discutir sua realidade na busca de alternativas de desenvolvimento. Para se chegar em Manicoré é preciso navegar por dois dias no Madeira.
A proposta político-pedagógica do CDI foi pensada para que justamente pudesse ser replicada nos mais diferentes contextos e realidades. Elaborada em parceria com o Núcleo de Informática Aplicado à Educação (NIED) da Unicamp, a metodologia de ensino de informática aliada a discussões sobre cidadania foi montada para uma flexível replicabilidade sem o comprometimento da qualidade e do conteúdo. Assim podemos ter uma escola funcionando com jovens infratores da Febem em São Paulo ou com trabalhadores rurais assentados em Goiás. Este, aliás, é um projeto pioneiro muito bem desenvolvido pelo CDI-DF em parceria com a Universidade de Brasília, EMATER e INCRA, que juntos conseguiram instalar EICs em assentamentos rurais também no estado de Minas Gerais.
Para se entender melhor este rápido crescimento da Rede CDI é preciso compreender dois conceitos que fundamentam a criação de um comitê: a auto-gestão e a auto-sustentabilidade. Cada CDI deve ser responsável pela criação e gerência de sua rede local de escolas de informática e cidadania, e igualmente pela captação de recursos para a manutenção do gastos operacionais do comitê.
O CDI-Pernambuco trouxe um importante exemplo para ser compartilhado com a rede: uma parceria com o governo daquele estado através do Fundo de Capital Humano, iniciativa de financiamento de projetos sociais do terceiro setor aprovados pela secretaria de ciência e tecnologia e meio ambiente onde o fundo investe 1 real para cada real aplicado pela iniciativa privada. A IBM, por exemplo, doou 10 workstations e 1 servidor que foram orçados em R$ 28 mil, valor igual depositado na conta daquele CDI.
O Encontro de CDIs busca não só acompanhar as experiências desenvolvidas pelos escritórios regionais, mas acima de tudo articular o movimento e compartilhar as diversas soluções encontradas para a promoção da inclusão digital.
Rodrigo Baggio é empreendedor social e diretor-executivo do Comitê de Democratização da Informática
E-mail: cdi@cdi.org.br
Aliás, temos uma história curiosa para contar. A expansão internacional do CDI iniciou-se justamente por uma nação com altíssimo nível de avanço tecnológico. A abertura do CDI-Japão teve o objetivo primeiro de captar computadores e enviá-los ao Brasil para sua reciclagem e reutilização. Mas logo em seguida os coordenadores daquele comitê perceberam que também tinham seus excluídos digitais: os imigrantes asiáticos que se deslocam ao Japão para tentar a sorte no mercado de trabalho e não conseguem emprego justamente pela baixa qualificação. Então surgiu, em 1999, a primeira Escola de Informática e Cidadania Internacional.
Mas a replicação do modelo desenvolvido no Rio de Janeiro começou bem antes. A primeira cidade a instalar um CDI foi a pequena e pacata Além Paraíba, em Minas Gerais. Hoje, 10% da população já foi capacitada pelo CDI. Hoje, o CDI está presente em 19 estados brasileiros e em outros 5 países. Além do Japão, temos comitês no México, Colômbia, Uruguai e Chile, em um total de 346 EICs, sendo 321 no Brasil e 25 no exterior.
Estou fazendo toda esta retrospectiva para falar sobre um importante evento que organizamos neste final de semana: o Encontro Regional e Internacional de CDIs. O encontro, que está em sua terceira edição, tem como objetivo aproximar todas as experiências mantidas por cada CDI e trocar informações sobre a metodologia, dinâmicas de ensino e captação de recursos. Este ano tivemos uma expressiva presença de representantes de diversos comitês de todo o Brasil e também do exterior: Chile, Uruguai e México enviaram seus coordenadores.
Os três dias de evento foram riquíssimos e me deixaram bastante impressionado com a variedade de soluções encontradas por cada CDI e pelo sucesso da replicação da metodologia do CDI. De Manaus à Porto Alegre empreendedores sociais vem conseguindo levar a democratização das novas tecnologias para as comunidades de baixa renda das capitais do país, assim como para os mais afastados rincões.
O CDI Pará, por exemplo, conseguiu levar a inclusão digital para dois pontos isolados daquele estado. Moradores do povoado de Muaná, na Ilha de Marajó, tem hoje acesso à informática e ao desenvolvimento da cidadania. Esta escola conseguiu em menos de seis meses de atividade formar 105 alunos e atualmente conta com outros 180 inscritos. Dois deles são os irmãos Elder e Jairo Bezerra de Melo, que para atenderam ao curso têm de remar 4 horas e pedalar outros 30 minutos para chegar até aquela EIC.
O CDI-Pará também instalou outra escola para a população ribeirinha do Rio Madeira. Os habitantes da cidade de Manicoré podem hoje se capacitar em ferramentas computacionais e através delas discutir sua realidade na busca de alternativas de desenvolvimento. Para se chegar em Manicoré é preciso navegar por dois dias no Madeira.
A proposta político-pedagógica do CDI foi pensada para que justamente pudesse ser replicada nos mais diferentes contextos e realidades. Elaborada em parceria com o Núcleo de Informática Aplicado à Educação (NIED) da Unicamp, a metodologia de ensino de informática aliada a discussões sobre cidadania foi montada para uma flexível replicabilidade sem o comprometimento da qualidade e do conteúdo. Assim podemos ter uma escola funcionando com jovens infratores da Febem em São Paulo ou com trabalhadores rurais assentados em Goiás. Este, aliás, é um projeto pioneiro muito bem desenvolvido pelo CDI-DF em parceria com a Universidade de Brasília, EMATER e INCRA, que juntos conseguiram instalar EICs em assentamentos rurais também no estado de Minas Gerais.
Para se entender melhor este rápido crescimento da Rede CDI é preciso compreender dois conceitos que fundamentam a criação de um comitê: a auto-gestão e a auto-sustentabilidade. Cada CDI deve ser responsável pela criação e gerência de sua rede local de escolas de informática e cidadania, e igualmente pela captação de recursos para a manutenção do gastos operacionais do comitê.
O CDI-Pernambuco trouxe um importante exemplo para ser compartilhado com a rede: uma parceria com o governo daquele estado através do Fundo de Capital Humano, iniciativa de financiamento de projetos sociais do terceiro setor aprovados pela secretaria de ciência e tecnologia e meio ambiente onde o fundo investe 1 real para cada real aplicado pela iniciativa privada. A IBM, por exemplo, doou 10 workstations e 1 servidor que foram orçados em R$ 28 mil, valor igual depositado na conta daquele CDI.
O Encontro de CDIs busca não só acompanhar as experiências desenvolvidas pelos escritórios regionais, mas acima de tudo articular o movimento e compartilhar as diversas soluções encontradas para a promoção da inclusão digital.
Rodrigo Baggio é empreendedor social e diretor-executivo do Comitê de Democratização da Informática
E-mail: cdi@cdi.org.br