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Fórum Social Mundial à moda carioca

Por O Globo - Pedro Dantas   26 de outubro de 2001
Se uma das tribos que freqüenta as areias do Posto 9 em Ipanema parecer desfalcada neste final de semana, não estranhe. Boa parte da esquerda do Rio estará reunida na versão carioca do Fórum Social Mundial na Universidade Cândido Mendes, no Centro, debatendo temas díspares como "Jongo como linguagem de paz" e "Os atentados nos Eua e a guerra imperialista" em algumas das 33 oficinas de debates do evento que termina apenas no domingo.

Eventos semelhantes estão acontecendo em outros estados visando a divulgação e coleta de propostas para o próximo Fórum Social Mundial de 2002, em Porto Alegre, mas o Fórum do Rio promete incorporar o jeito carioca aos sisudos debates sobre globalização e neoliberalismo e afins com festas regadas à samba, de raiz, é claro.

-Estamos esperando um público de 800 a mil pessoas por dia participando das oficinas. O objetivo do Fórum é criar vínculos entre todos os movimentos sociais, por isso debateremos temas tão diferentes - afirma o coordenador do Comitê-Rio do Fórum Social Mundial, Luís Mário Banhken.

A abertura acontece hoje à noite com a presença de Bernard Cassen, editor do Le Monde Diplomatique e fundador da ONG ATTAC, um dos principais articuladores da primeira edição do Fórum Social Mundial que aconteceu este ano em Porto Alegre como contraponto do Fórum Econômico Mundial, realizado em Davos, na Suíça.

-Cassen deve abordar o tema da guerra e eu devo focalizar mais a conjuntura nacional - afirma o economista César Benjamin, coordenador do Movimento de Consulta Popular, que dividirá a mesa com o editor francês.

Como o clima não inspira invasões ao McDonald's e o Rio não dispõe de fazendas para serem ocupadas como no Rio Grande do Sul, os militantes do Comitê Jovem Rio do Fórum Social Mundial devem promover um protesto à carioca contra a mais recente investida dos EUA e aliados: os bombardeios ao Afeganistão. Na manhã de sábado, o morro do Pão de Açúcar deve amanhecer estampado com uma bandeira de 50 metros com os dizeres "Não à guerra".

O sotaque carioca no Fórum Social Mundial não vai parar por aí. Entre debates pesados como "Paraísos Fiscais" e muito papo-cabeça em discussões sobre "Amamentação e vida" e "Movimento de cidadania pelas águas", economistas, sociólogos, militantes de ONGs e, principalmente, estudantes vão saborear samba de raiz, jongo da serrinha e chorinho nas festas que encerram os três dias de debates.

O Fórum abrirá espaço para o teatro político com as peças "Tiradentes - o Zé da Vila Rica" com o Grupo Libertas Quae Sera Tamen, "A revolução dos anjos" do grupo Nós do Morro e "Marias do Brasil", do grupo Teatro do Oprimido, dirigido por Augusto Boal, que também participa da conferência "Os movimentos sociais e a resistência popular: construindo a sociedade que queremos" junto com o líder do Movimento dos Sem Terra, João Pedro Stédile, no domingo.

Entre os promotores do Fórum, duas certezas prevalecem. A primeira é que o evento no Rio deve ser diferente dos realizados nos outros estados e a segunda é que o próprio Fórum já não é apenas um evento ou mais um espaço para debate e sim uma forma nova de militar no movimento social.

-O Fórum mostra um painel de forças não hegemônicas que nem sempre conseguem espaço para se manifestar e retoma a idéia de utopia contrariando o pragmatismo que prevaleceu nos anos 90 - pensa o economista César Benjamin

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