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Crianças e jovens aprendem a ler em novos programas

Por Jornal Valor - Rose Guirro   9 de novembro de 2001
Educação complementar Com rodas de leitura, GE e J. P. Morgan levam cultura a crianças e adolescentes

Duas empresas, dois projetos diferentes, mas o objetivo é comum: por meio da leitura, mostrar um novo mundo para crianças e adolescentes e fazer com que passem a gostar de livros.

O primeiro projeto, chamado Círculo da Leitura, é desenvolvido em conjunto pela Fundação GE - uma organização de funcionários, aposentados e parceiros da General Eletric Company, a GE - e pelo Instituto Fernand Braudel de Economia Mundial. Desde março é realizado em Diadema, na Grande São Paulo, considerada uma das cidades mais violentas do Estado.

A princípio, 15 jovens em liberdade assistida participavam do programa. "Um dos livros que lemos na época foi Fernão Capelo Gaivota, de Richard Bach, que fala de liberdade", lembra Norman Gail, do Instituto Fernand Braudel e coordenador do projeto. A leitura atraiu tanto os menores que, hoje, eles são os monitores de novos grupos, agora sem adolescentes infratores. E o melhor: daqueles 15 primeiros, nenhum voltou a praticar delitos.

Durante a leitura, o jovem tem liberdade para fazer perguntas e contar a sua própria história. No final, os textos e poemas feitos pelos adolescentes são lidos e discutidos entre todos. "Estamos descobrindo vários talentos", alegra-se Gail, que já mostrou aos jovens clássicos como O Banquete, de Platão, e Odisséia, de Homero, entre outros títulos. Um dos textos dos adolescentes diz "eu tento fazer o certo para fugir do errado, entre dois caminhos sei escolher o meu lado, com maiores e menores consciente, todo o sábado". Escrito por Tikinho e Charles, mostra o sonho de todos: aprender sempre mais.

Para a Fundação GE, o projeto preenche uma lacuna. "As escolas não ensinam o jovem a ler", constata Lucimar Viel, coordenadora de comunicação para a América Latina da GE. A parceria com os jovens rendeu outro ponto positivo: como alguns dos primeiros jovens a participar do projeto mostraram-se interessados em aprender inglês, dois executivos da empresa estão dando aulas a dez garotos. "Estes jovens também nos ensinam muitas coisas", afirma Lucimar. Nos últimos dois anos, a GE destinou US$ 300 mil para projetos sociais.

O segundo projeto envolvendo leitura foi criado pelo banco J. P. Morgan, com um diferencial: foram jovens que ensinaram os executivos da instituição a conduzir a leitura de livros. Agora, os executivos vão começar a ler histórias para crianças do Lar Carolina, no Embu. "Os jovens nos ensinaram muito", diz Ana Luisa Vieira, vice-presidente de investimentos sociais e coordenadora do projeto. "Foi formada uma turma com dez funcionários e, agora, em novembro, teremos um novo curso", conta ela.

Os professores fazem parte do projeto Mudando a História, da Fundação Abrinq, que forma jovens de 15 a 25 anos como mediadores de leitura. Normalmente eles lêem para crianças. "Com os executivos, tivemos de usar um outro tipo de linguagem", conta Paulo Luiz Vieira, de 18 anos. Nas primeiras aulas havia só mulheres entre os voluntários. Depois, os homens foram chegando. "Quando eles começarem a trabalhar com as crianças, o número de voluntários vai aumentar", afirma Paulo.

As obras que serão lidas para as crianças foram indicadas pela Fundação Abrinq. "Os livros são coloridos, com muitos desenhos, para agradar às crianças", diz Ana Luisa. "Queremos mostrar que o livro é uma grande brincadeira, que há títulos para todos os gostos", afirma. "A nossa motivação é fazer com que as crianças comecem a gostar de ler."

Os jovens professores vão supervisionar e participar do trabalho na creche. "Acompanhar o desenvolvimento da criança é maravilhoso", diz Paulo.

A Fundação Abrinq, responsável pelo projeto Mudando a História em cooperação com a Nokia e a International Youth Foundation, diz que este pode ser o primeiro de outros acordos com empresas. "Até agora não tivemos nenhuma experiência semelhante, mas isso abre caminho para novos projetos", acredita Cintia Carvalho, coordenadora do Projeto Mudando a História. Segundo Cíntia, a participação dos jovens em um projeto social de uma grande empresa é positivo. "Isso mostra que eles têm uma experiência que os adultos não têm, que eles também podem ensinar alguma coisa."

Para a Abrinq, a leitura é prioridade. Tanto que a fundação tem outro projeto, o Biblioteca Viva, que é desenvolvido em hospitais de São Paulo (Instituto da Criança e Hospital São Paulo) e Rio de Janeiro (Instituto Fernandes Figueira, Hospital Municipal Jesus e Martagão Gesteira). Com apoio do Citibank e do Ministério da Saúde, funcionários e voluntários são treinados para mediar a leitura e são criados espaços e móveis a fim de facilitar a leitura. Na última segunda-feira, foram exibidos os móveis criados por estudantes: um porta-livros que pode ser adaptado ao suporte do soro, uma mochila que vira um mostruário de obras e armários-carrinhos que podem transportar 40 ou 150 títulos. Tudo para melhorar o ânimo das crianças que estão internadas.

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