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Entidades debatem papel de fábricas de cigarro e bebida
Por Jornal Valor - Sandra Seabra   9 de novembro de 2001
Ética Conciliar ação social com produção de bens nocivos é o desafio
Alguns aspectos delicados da responsabilidade social - uma conduta que tem sido objeto de atenções crescentes do meio empresarial e da sociedade civil nos últimos anos - só agora começam a ser debatidos. Entre eles, o caso de empresas cujas atividades envolvem produtos considerados potencialmente nocivos, como fabricantes de bebidas alcoólicas e cigarros.
"Se o produto é bom para a sociedade, mas o fabricante tem condutas não muito éticas, a situação pode ser corrigida. Se a empresa não aperfeiçoa seus processos de produção e a maneira como atua, pode ser punida pelo consumidor", diz Rebecca Raposo, diretora executiva do Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (Gife). "Outra questão é saber o que acontece quando a empresa tem atitudes socialmente responsáveis, mas seu produto não é benéfico."
O Gife tem 61 associados , cinco deles empresas e o restante fundações ou institutos. Rebecca diz que, até o momento, nenhuma empresa fabricante de produtos considerados nocivos participa da entidade. "Mas quando uma delas pleitear o ingresso, forçará a discussão. Afinal, a Souza Cruz, por exemplo, fabrica cigarros, mas o Instituto Souza Cruz pode ter ações sociais maravilhosas." O Gife trabalha basicamente com o terceiro setor, o que o deixaria fora da questão anos atrás. "Atualmente, o segundo e terceiro setores estão imbricados. O código de ética do Gife, de 1995, que considero bastante moderno, não contempla a questão", diz Rebecca.
A Souza Cruz e a Kaiser são empresas associadas ao Instituto Ethos de Responsabilidade Social. A Ambev acabou de associar-se. Ricardo Young, presidente do Conselho Deliberativo do Instituto, lembra que "o Ethos não oferece certificação ou legitimação às ações sociais das empresas". Explica que "o fato de uma empresa associar-se não significa que é socialmente responsável, mas que busca ferramentas, que o Ethos fornece, para tornar-se."
Para Young, dentro do Ethos ainda não há consenso sobre se essas empresas podem ou não ser consideradas socialmente responsáveis. "A lista estende-se aos fabricantes de armas, de agrotóxicos e de outros produtos tidos como não-éticos."
A polêmica acontece no momento em que o Conselho Deliberativo do Ethos também discute a possibilidade de criar um protocolo mínimo para que a empresa possa associar-se. "A idéia é que a empresa deva ter um real comprometimento e não uma vaga intenção de exercer a responsabilidade social", diz. Queremos também criar um conselho de ética que possa avaliar ações futuras dos associados."
O site do Instituto Nacional do Câncer (INC) informa que em 90% dos casos de câncer de pulmão há relação casual com o consumo de cigarros. O controle do tabagismo é uma das prioridades do INC. Mas a atividade das fábricas de cigarro é legal e a indústria argumenta que o fechamento delas não faria com que as pessoas parassem de fumar. "São argumentos consistentes", diz Young. Além disso, a favor dos fabricantes existem as ações sociais propriamente ditas, que os habilitam como empresas socialmente responsáveis.
É o caso do compromisso da Souza Cruz, firmado em 1997 com a Abrinq, para auxiliar na erradicação do trabalho infantil, bastante presente na cadeia de produção do cigarro. Segundo dados da Divisão de Combate ao Trabalho Infantil da Secretaria de Inspeção do Trabalho, do Ministério do Trabalho, em 1999, no Brasil, 17.245 meninos e 14.153 meninas (31.398 no total), de 5 a 15 anos, trabalhavam na cultura do fumo pelo período de 15 ou mais horas por semana.
No projeto "O Futuro é Agora", o Instituto Souza Cruz atende a cerca de 45 mil pequenos produtores e 40 mil filhos de produtores do Sul do país. O programa abrange 140 mil pequenos produtores da região, envolvendo os demais plantadores . "A tarefa de erradicação do trabalho infantil não é fácil e enfrenta os fortes valores culturais e morais das famílias rurais da região", fala José Roberto Cosmo, gerente de Responsabilidade Social da Souza Cruz.
O compromisso da Souza Cruz com a erradicação do trabalho infantil é importante, mas Young ressalta a necessidade de trabalho mais acentuado junto às crianças e jovens, fortes candidatos a fumantes. "O próprio fabricante assume que o cigarro faz mal, mas acredita que a decisão de fumar está com o consumidor. Se é assim, deve agir no sentido de que os futuros consumidores pelo menos estejam mais conscientes dos riscos."
O projeto "Cuidar", da Souza Cruz, voltado para a prevenção, mostra aos jovens os riscos do cigarro, das bebidas e drogas. O projeto, que tem como parceiros a Philip Morris do Brasil e o Mudus Faciendi, teve início em março e tem como público-alvo educadores e educandos da 5ª à 8ª séries do ensino fundamental e todas as séries do ensino médio.
Para Sérgio Esteves, diretor executivo da AMCE Negócios Sustentáveis, além do compromisso com a erradicação do trabalho infantil, deve entrar na discussão o investimento em pesquisas para reduzir a dependência.
Alguns aspectos delicados da responsabilidade social - uma conduta que tem sido objeto de atenções crescentes do meio empresarial e da sociedade civil nos últimos anos - só agora começam a ser debatidos. Entre eles, o caso de empresas cujas atividades envolvem produtos considerados potencialmente nocivos, como fabricantes de bebidas alcoólicas e cigarros.
"Se o produto é bom para a sociedade, mas o fabricante tem condutas não muito éticas, a situação pode ser corrigida. Se a empresa não aperfeiçoa seus processos de produção e a maneira como atua, pode ser punida pelo consumidor", diz Rebecca Raposo, diretora executiva do Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (Gife). "Outra questão é saber o que acontece quando a empresa tem atitudes socialmente responsáveis, mas seu produto não é benéfico."
O Gife tem 61 associados , cinco deles empresas e o restante fundações ou institutos. Rebecca diz que, até o momento, nenhuma empresa fabricante de produtos considerados nocivos participa da entidade. "Mas quando uma delas pleitear o ingresso, forçará a discussão. Afinal, a Souza Cruz, por exemplo, fabrica cigarros, mas o Instituto Souza Cruz pode ter ações sociais maravilhosas." O Gife trabalha basicamente com o terceiro setor, o que o deixaria fora da questão anos atrás. "Atualmente, o segundo e terceiro setores estão imbricados. O código de ética do Gife, de 1995, que considero bastante moderno, não contempla a questão", diz Rebecca.
A Souza Cruz e a Kaiser são empresas associadas ao Instituto Ethos de Responsabilidade Social. A Ambev acabou de associar-se. Ricardo Young, presidente do Conselho Deliberativo do Instituto, lembra que "o Ethos não oferece certificação ou legitimação às ações sociais das empresas". Explica que "o fato de uma empresa associar-se não significa que é socialmente responsável, mas que busca ferramentas, que o Ethos fornece, para tornar-se."
Para Young, dentro do Ethos ainda não há consenso sobre se essas empresas podem ou não ser consideradas socialmente responsáveis. "A lista estende-se aos fabricantes de armas, de agrotóxicos e de outros produtos tidos como não-éticos."
A polêmica acontece no momento em que o Conselho Deliberativo do Ethos também discute a possibilidade de criar um protocolo mínimo para que a empresa possa associar-se. "A idéia é que a empresa deva ter um real comprometimento e não uma vaga intenção de exercer a responsabilidade social", diz. Queremos também criar um conselho de ética que possa avaliar ações futuras dos associados."
O site do Instituto Nacional do Câncer (INC) informa que em 90% dos casos de câncer de pulmão há relação casual com o consumo de cigarros. O controle do tabagismo é uma das prioridades do INC. Mas a atividade das fábricas de cigarro é legal e a indústria argumenta que o fechamento delas não faria com que as pessoas parassem de fumar. "São argumentos consistentes", diz Young. Além disso, a favor dos fabricantes existem as ações sociais propriamente ditas, que os habilitam como empresas socialmente responsáveis.
É o caso do compromisso da Souza Cruz, firmado em 1997 com a Abrinq, para auxiliar na erradicação do trabalho infantil, bastante presente na cadeia de produção do cigarro. Segundo dados da Divisão de Combate ao Trabalho Infantil da Secretaria de Inspeção do Trabalho, do Ministério do Trabalho, em 1999, no Brasil, 17.245 meninos e 14.153 meninas (31.398 no total), de 5 a 15 anos, trabalhavam na cultura do fumo pelo período de 15 ou mais horas por semana.
No projeto "O Futuro é Agora", o Instituto Souza Cruz atende a cerca de 45 mil pequenos produtores e 40 mil filhos de produtores do Sul do país. O programa abrange 140 mil pequenos produtores da região, envolvendo os demais plantadores . "A tarefa de erradicação do trabalho infantil não é fácil e enfrenta os fortes valores culturais e morais das famílias rurais da região", fala José Roberto Cosmo, gerente de Responsabilidade Social da Souza Cruz.
O compromisso da Souza Cruz com a erradicação do trabalho infantil é importante, mas Young ressalta a necessidade de trabalho mais acentuado junto às crianças e jovens, fortes candidatos a fumantes. "O próprio fabricante assume que o cigarro faz mal, mas acredita que a decisão de fumar está com o consumidor. Se é assim, deve agir no sentido de que os futuros consumidores pelo menos estejam mais conscientes dos riscos."
O projeto "Cuidar", da Souza Cruz, voltado para a prevenção, mostra aos jovens os riscos do cigarro, das bebidas e drogas. O projeto, que tem como parceiros a Philip Morris do Brasil e o Mudus Faciendi, teve início em março e tem como público-alvo educadores e educandos da 5ª à 8ª séries do ensino fundamental e todas as séries do ensino médio.
Para Sérgio Esteves, diretor executivo da AMCE Negócios Sustentáveis, além do compromisso com a erradicação do trabalho infantil, deve entrar na discussão o investimento em pesquisas para reduzir a dependência.