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A responsabilidade social entrou na moda

Por Paula Cunha    31 de janeiro de 2007
"Podemos salvar as árvores da Amazônia daqui mesmo com atitudes responsáveis." Com esta afirmação, o estilista Oskar Metsavaht começou a explicar na última sexta-feira, na São Paulo Fashion Week (SPFW), os motivos que o levaram a criar o Instituto e e a lançá-lo durante o principal evento brasileiro de moda, que está cada vez mais preocupado em apoiar ações responsáveis.

Batizado Espaço e, o estande transformou-se em uma plataforma de lançamento não só da organização não-governamental mas também para anunciar a criação do projeto e-fabrics. Trata-se de um selo eco-social criado especialmente para divulgar para os produtores de moda novas matérias-primas que podem ser utilizadas em coleções dos mais variados estilos e que apóia comunidades carentes que produzem seus próprios tecidos e peças de artesanato.

De acordo com os representantes do projeto, a entidade já pesquisou e produziu mais de 20 variedades de materiais criados a partir de elementos utilizados por comunidades e cooperativas de artesãos. Vestidos com design desenvolvidos por estilistas de renome foram elaborados com estes materiais, com destaque para sedas e lãs artesanais, fibras vegetais, couros de animais de origem controlada, látex da Amazônia e embalagens pet, entre outros. Eles estavam expostos nos corredores da SPFW.

Metsavaht explica que sempre se preocupou com as questões ambientais que afetam o planeta e que o Instituto e é a resposta prática a estas inquietações. Ele é um desdobramento do E-brigade, criado em 2000, para sensibilizar os jovens e a sociedade em geral em relação às questões ambientais que afetam o planeta.

Este tipo de iniciativa é positiva quando se lembra que a SPFW acabou por se transformar em uma das representantes do mercado de luxo do país. E torna-se ainda mais representativa quando se acrescenta que o estado de São Paulo é responsável por 75% do consumo do setor de moda e luxo (o equivalente a cerca de US$ 2 bilhões).

Diante de números tão expressivos, o estande do Espaço e na SPFW foi especialmente montado para mostrar aos estilistas e profissionais do setor que é possível ser criativo e obter bons resultados estéticos com materiais alternativos.

"Este projeto tem o objetivo de tentar mostrar para a indústria têxtil brasileira que é viável misturar o know-how descoberto a partir destes materiais alternativos e os convencionais. Nas minhas coleções, utilizo nylon tecnológico e algodão orgânico. Pretendo, também, lançar em abril uma coleção com estampas de animais em extinção para reforçar a idéia de que somos responsáveis por aquilo que compramos e que consumimos", explica.

Números responsáveis – De acordo com a Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit), a produção de roupas em escala industrial é a que mais reutiliza aparas e sobras. "Em 90% da produção de peças de algodão, 10% utilizam material reciclado", afirma Fernando Valente Pimentel, diretor superintendente da entidade.

Para ele, os materiais alternativos mostrados no estande Espaço e, como o algodão orgânico, já são utilizados em grande escala na indústria têxtil e a sua demanda é crescente. "O Brasil tem tecnologia e know-how para competir no mercado mundial da moda, que está incorporando o conceito de responsabilidade social com a reciclagem", acrescenta Pimentel.

Integração – A coordenadora da ONG Instituto e-Brigade, Selma Fernandes, reforça este raciocínio lembrando que o vestuário exerce um dos maiores impactos sobre a natureza em razão dos agentes químicos utilizados na fabricação de roupas. Por isso, ela acredita na associação entre a fabricação consciente e o consumo idem.

Por isso, o e-Brigade aposta na integração entre as comunidades produtoras de fios, tecidos e artesanato e o setor da moda. "Não existem negócios em um planeta morto", diz Selma.

A ONG atua em diversas regiões do país, sempre valorizando as culturas locais e buscando a integração com a indústria têxtil. Com bases no Paraná, Amazônia, Ceará, Acre e Minas Gerais, ela elaborou projetos baseados nos biomas de cada localidade e respeita as tradições de produção. Ela ainda não avalia o impacto sobre as comunidades integradas ao projeto, já que ele foi implantado há poucos meses.

"Na média, até agora, os estilistas foram muito receptivos às nossas propostas de materiais alternativos", diz Selma.

Oskar Metsavaht conta que abandonou a medicina para se dedicar à moda após uma excursão aos Andes. Para se preparar para a viagem, procurou roupas adequadas ao frio de 32 graus centígrados negativos. A partir daí, passou a pesquisar e produziu um tecido específico que protegia contra o frio e deixava o suor evaporar.

Este, diz ele, foi o primeiro passo para direcionar sua carreira com ações de conscientização. "Vi que através da minha atividade poderia divulgar idéias de preservação com uma linguagem fora do convencional porque sempre achei a cobertura e a abordagem de temas que envolvem o meio ambiente muito chatas", conclui Metsavaht.

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