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Reciclando a vida com garrafas pet

Por André Alves    15 de março de 2007
Há sete anos, o então desempregado Ananias de Souza não tinha a mínima noção do que era reciclagem. Hoje, ele é um dos 500 mil brasileiros que sustentam suas famílias com a coleta de materiais plásticos, especialmente garrafas pet. Com o trabalho prestado à Coopemare – Cooperativa dos Catadores de Materiais Recicláveis, Souza consegue faturar entre R$ 500 e R$ 600 por mês.

Casado e pai de quatro filhos, Ananias, 41 anos, percorre diariamente vários bairros de São Paulo à procura de materiais recicláveis. Dá preferência a latinhas e garrafas pet, produtos com maior valor de mercado. Recolhe cerca de 200 quilos de garrafas ao mês. "Além de ganhar dinheiro com as embalagens, fico feliz em ajudar a preservar o meio ambiente", diz Souza.

Hoje, o Brasil recicla 47% do que produz em embalagens pet, patamar superior ao registrado na Europa (31%) e nos Estados Unidos (22%).

Boa parte do faturamento da Coopemare, formada por 57 cooperados, vem da coleta das garrafas. "Recolhemos mensalmente de quatro a cinco toneladas. O material, além de ter mais valor que o papelão e o vidro, é mais fácil de vender", afirma Eduardo Ferreira, diretor-secretário da Coopemare e catador de material reciclável há 15 anos.

Depois que as embalagens são recolhidas pelos catadores em residências, condomínios e estabelecimentos comerciais, elas são prensadas na cooperativa. Posteriormente, são vendidas para intermediários por R$ 0,85 o quilo. O cooperado fica com 80% do que gera. O restante fica com a cooperativa para despesas, como água e luz. "Nosso objetivo é conseguir vender diretamente para as indústrias de reciclagem e processamento, sem a presença de atravessadores. Desta forma, vamos faturar mais com a venda dos produtos", diz Ferreira.

Boa parte das garrafas pet coletadas pela Coopemare são doadas para o Núcleo Escola Cooperar Reciclando - Reciclar Cooperando, associação pertencente à Organização de Auxílio Fraterno (OAF), e transformada em utensílios domésticos, roupas e acessórios. A entidade tem convênio com a Prefeitura de São Paulo para a capacitação de cerca de 100 moradores de rua. "Aqui transformamos as garrafas pet. O projeto, além de capacitar moradores de rua, colabora para a inclusão social deles", afirmou Nena de Souza, coordenadora pedagógica da OAF.

A idéia de trabalhar com embalagens pet, segundo Nena, foi impulsionada quando a Natura, em 2006, encomendou diversas bolsas para embrulhar seus produtos. Os 13 moradores de rua que só trabalham com pet, entre coleta, limpeza e trabalho artístico, produziram na ocasião 1.000 bolsas. "Atualmente, fabricamos cerca de 20 tipos de produtos. Eles são vendidos nas duas unidades do Núcleo", disse Nena.

Além de bolsas, os participantes do Núcleo produzem cortinas, porta-copos, porta-trecos, luminárias, pufes, jogos americanos, porta-revistas e porta-papéis higiênicos, entre outros. O sucesso é tão grande que a entidade participa freqüentemente de exposições em shoppings, hotéis, eventos e ruas comerciais. O dinheiro arrecadado com as vendas dos artigos é reinvestido na instituição, já que os participantes do projeto recebem mensalmente uma bolsa-trabalho no valor de R$ 335 financiada pelo governo do estado de São Paulo. O Núcleo está localizado na rua Galeno de Almeida, 639, próximo ao metrô Sumaré.

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