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Crianças descobrem o sabor do mar

Por Marcos Augusto Ferreira    21 de março de 2007
Quando Igor Vinicius de Melo Rita Vitor pôs os pés na areia, parecia ter perdido a voz. Os olhos fixavam um horizonte que ele jamais havia visto. À medida que caminhava em direção à água, o sorriso –"um misto de alegria e nervoso"– tornava-se mais aberto, até explodir em gritos, em meio às ondas. Aos 9 anos, Igor finalmente conheceu o mar. "Estava tão ansioso que fiquei acordado na madrugada. Não sabia que a água era forte e salgada. É muito bom", dizia eufórico.

Poliana Teodoro dos Santos, 9 anos, também estranhou o sabor salgado, mas ficou encantada com a grandeza do mar. "É muitíssimo grande, enorme. Meu coração até bateu mais forte, quando estava chegando perto." A euforia era tamanha que nem mesmo o encontro "assustador" com um siri tirou a alegria de Gabriel Tomaz Gonçalves, 6 anos. Em poucos minutos, as ondas lavaram as lágrimas e o medo e ele voltou a pular. "Chorei um pouquinho, ficou uma marquinha da picada, mas passou. Quero voltar muitas vezes, é muito legal, diferente do que vi na televisão, a areia é molhada e a água, forte."

Igor, Poliana e Gabriel são de Espírito Santo do Pinhal (a cerca de 200 km de São Paulo). Moradores do bairro Alto Alegre, área carente da cidade, eles e outras 11 crianças atendidas pelo Lar Jesus de Pinhal chegaram a Santos na sexta-feira, dia 16. Passarão uma semana na praia, com hospedagem e cinco refeições diárias gratuitas oferecidas pela Casa da Vovó Anita, entidade santista fundada em 1972, justamente com o intuito de proporcionar a meninos e meninas carentes do interior brasileiro a alegria de conhecer o mar.

"Tudo é uma festa. Essa viagem é uma aventura inesquecível. Eles se deslumbraram com os túneis, com a cidade e, claro, não queriam nem almoçar, estavam loucos para entrar na água", conta Marilene Roberto, diretora do Lar Jesus de Pinhal.

A Casa da Vovó Anita recebe, em média, cerca de 200 crianças por mês –as turmas se revezam a cada quinzena ( leia mais nesta página ). Na sexta, também chegaram 13 alunos da Escola de Educação Especial Xodó/Apae de Espírito Santo de Pinhal. Entre eles, Michel Ferrari Oliveira, de 14 anos, portador de deficiência mental, que ainda no refeitório da Casa, poucos minutos após desembarcar, buscava informações: "Como eu pego a onda? Tem tubarão lá? E navio? A água é doce, lógico, né? Vi da janela do ônibus e acho que é muito bonito".

Cristina da Cruz Orlando, professora da Apae e responsável pelo grupo, explica que a ansiedade, inclusive de algumas mães que acompanham os filhos, começou uma semana antes e foi aumentando durante a viagem de quase quatro horas. "Todo o esforço compensa. O ônibus para transporte foi viabilizado porque nos juntamos com o pessoal do Lar Jesus, recebemos doações, fizemos bazar. Tudo isso tem um valor enorme, que é fazer qualquer coisa para proporcionar a alegria para os meninos."

Mar engarrafado – No sábado, mais um grupo desembarcava na Casa da Vovó Anita, para passar duas semanas em Santos. Mesmo após cerca de dez horas de viagem, os 39 alunos da 4ª série da Escola Municipal de Inúbia Paulista, cidade com pouco mais de 3 mil habitantes (a cerca de 570 km a oeste da Capital), demonstravam ter muita energia para aproveitar a praia.

"Senti uma empolgação enorme, estava tão ansiosa para chegar que até dormi pouco no ônibus, mas sonhei em conhecer o mar", afirma Patrícia Ribeiro dos Santos, 9 anos. "Minha mãe falou para eu não abrir muito os olhos embaixo da água, porque ela é muito salgada e vai arder, mas eu quero aproveitar todos esses dias."

A professora Marcela de Fátima Ferreira, uma das responsáveis pela turma, diz que a ansiedade tomou conta das crianças uma semana antes da partida: "Eles pesquisaram na internet, fizeram atividades sobre o mar, a cidade, e não pararam de falar no assunto".

"Foi uma festa, não dava para pensar em outra coisa. Uma semana arrumando mala, combinando as coisas", diz Thauany Letícia de Sá Lima, 9 anos. "Vou levar água do mar numa garrafa, para mostrar para as minhas colegas que não vieram."

Em meio à algazarra, uns se apressam em fazer planos. Uns vão colecionar conchinhas –Lucas Araújo Ferreira, 8 anos, por exemplo, diz que vai pendurá-las na janela do quarto. Outros darão jeito de levar um pouco de areia e tudo o que encontrarem. Muitos escreverão (e inventarão) histórias e aventuras em Santos. Há também aqueles que, mesmo diante do mar, sequer conseguem traduzir tanta euforia: "Estou tão empolgado que não dá nem para falar. Quero brincar e brincar, aproveitar esse mar grande", comenta Jonas de Souza Barbosa, 9 anos.

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