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Moradores de rua fazem arte

Por Paula Cunha / Diário do Comércio   25 de abril de 2007
Pode parecer um clichê, mas a afirmação de que o artista e sua arte devem ir aonde o povo está cai como uma luva para explicar a repercussão social que a exposição do artista indiano Anish Kapoor alcançou ao escolher o Vale do Anhangabau como sede em São Paulo para sua exposição Ascencion. Alguns moradores de rua que vivem no entorno do Vale participaram de todas as oficinas e modificaram definitivamente sua maneira de ver o mundo.

Planejada, inicialmente, para ocupar o espaço interior do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), organizador da mostra, a instalação foi colocada no Vale do Anhangabau e o artista indiano ficou impressionado com o interesse mostrado pelos moradores de rua do entorno. Convidou-os, então, para participar das atividades. Uma organização não governamental, a Travessia, levou seus monitores para interagir com os moradores de rua.

Foi assim que Alexandre, que mora há três anos nas ruas do centro da capital, passou a freqüentar as oficinas de arte durante o período em que a instalação Ascencion esteve no Vale do Anhangabau. Tímido, o rapaz recusou-se a revelar sua idade, mas mostrou grande entusiasmo ao contar que se sentia bem quando pintava durante as oficinas e que esquecia as dificuldades pelas quais passava nas ruas.

"Muita gente me incomoda, como a polícia. Saí de casa porque meu pai me batia e agora ando no centro e nado na fonte sem camisa", contou. Mas quando disse que pintou muitas figuras e que participou de todas as atividades durante a exposição sua aparência se transformou e passou a demonstrar grande alegria. "Gostei de pintar sozinho e com os outros e quero voltar mais vezes", disse ao mostrar um braço que pintou com seus amigos.

Interação – Para Marcelo Luís de Araújo, educador social da ONG Travessia, parceira do CCBB nesta iniciativa, o objetivo era fazer com que os moradores de rua entrassem na exposição abertos a novas experiências. Para atingir este objetivo, criaram um ambiente acolhedor no qual as atividades eram bastante diversificadas (pintura, escultura etc.).

"Mostramos que o Anish criou uma obra que estava dentro dele e estimulamos os meninos a mostrarem o que tinham dentro de si. A arte possibilita ver as coisas de uma forma diferente e quando eles voltavam já mostravam uma opinião sobre as coisas que já haviam visto na exposição. Foi importante para mim presenciar esta transformação", disse Araújo.

Potencial – Surpresa. Este foi o sentimento que a arte educadora Carla Todesco demonstrou ao travar contato com os jovens moradores do centro da capital. "Fiquei surpresa com o interesse deles e o projeto é importante porque oferece a arte a um público que é destituído de tudo. As oficinas mostraram que estas pessoas têm potencial e que a cultura e a arte deveriam ser garantidas a todos", completou.

Para a arte educadora Adriana Aguiar a arte desperta a consciência crítica das pessoas. A jovem chegou a São Paulo em 2001 e logo passou a trabalhar com arte para pessoas excluídas. "Trabalhei em escolas como professora de arte e em um hospital psiquiátrico. Vim para São Paulo e trabalhei na Pinacoteca e na Bienal. Aqui consegui fazer vínculos com pessoas excluídas e conhecer as suas necessidades. Vi que elas precisam de arte também", concluiu.

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