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Pesquisa indica aumento de Aids entre mulheres

Por Diario do Nordeste    12 de novembro de 2001
Rio - A epidemia de Aids no Brasil, que surgiu nos anos 80 concentrada na população masculina dos grandes centros, mudou de direção e hoje atinge cada vez mais mulheres que vivem no interior. Pesquisa do Ministério da Saúde revela que o número de municípios onde a doença faz mais vítimas do sexo feminino subiu de 34, em 1995, para 159 este ano - crescimento de quase cinco vezes em seis anos.

O alerta sobre o crescimento da contaminação de mulheres já é feito desde a metade dos anos 90, mas a combinação entre "feminilização" e "interiorização" da doença começa a ser revelada agora. Segundo o estudo, a maioria das cidades da lista de 2001 não ultrapassa os 50 mil habitantes e está distante dos grandes centros. Em todos os 159 municípios a relação mulher/homem de casos de Aids é de, pelo menos, 1.5/1 (Estiva Gerbi, SP), mas chega a 7/1 em Rifaina, SP. Em 1995, essa relação não ultrapassava os 5/1 (Maricá, RJ). Outra novidade é que São Paulo (que concentra 50% dos casos de Aids no País) empata com Minas Gerais no número desses municípios.

Os dois Estados têm, cada um, 24 cidades do total de 159. O dado é revelador porque, em 1995, Minas tinha apenas uma das 34 cidades relacionadas pelo ministério e São Paulo, 10.

"Fica claro que a epidemia está se movendo para o interior", analisa Kátia Souto, consultora da área de prevenção da Coordenação Nacional de Aids do Ministério da Saúde.

A dona de casa Ana Cláudia Rocha, de 26 anos, uma das vítimas dessa mudança, se enquadra no perfil das novas vítimas da doença traçado pelos especialistas. Ela é negra, pobre, analfabeta e mora em Tanguá (RJ).

Emancipada do município vizinho de Itaboraí em 1997 Tanguá é um dos poucos locais citados não distantes da capital. Sem hospital, o município registrou oito casos da doença desde o início da epidemia, sete em mulheres. Ana Cláudia é uma das sete e, como a maioria das brasileiras infectadas (56%), foi contaminada em uma relação heterossexual. "Eu acho que peguei o vírus do meu marido. De que outra forma seria?", pergunta.

O marido, no entanto, não admite ser portador do vírus. "Ele fez o exame, mas quando o resultado saiu, ele rasgou o papel e não me mostrou. Tenho certeza que ele tem porque andou doente, mas, como briga comigo quando falo nisso, prefiro deixar pra lá." Ela conta ainda que não usava preservativo com o marido porque não sabia dos riscos que corria. "Eu não sabia o que era Aids e achava que nunca ia acontecer comigo."

Como Ana Cláudia, a maioria das mulheres contaminadas com a doença vive numa situação classificada pelos especialistas como "vulnerabilidade de gênero". "Os estudos mostram que as mulheres têm menos parceiros, mas pegam o vírus porque têm pouco poder de negociação na hora de exigir o preservativo", explica Kátia.

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