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Empregos em baixa? Não para eles...
À primeira vista, são pequenos detalhes que, para eles, se tornam verdadeiros obstáculos. Os bancos com suas portas giratórias não lhes dão acesso. O transporte público padece de adaptações. E são raros os cinemas, teatros, lojas e restaurantes que se preocupam integralmente com a questão.
Faltam rampas, linhas-guias e sinalizações em braile. Essa difícil vida, contudo, começa a receber sinais de esperança. Eis a boa notícia: eles finalmente estão conseguindo aumentar sua participação no mercado de trabalho.
Levantamento inédito da seção paulista do Ministério do Trabalho e Emprego constatou o aumento de portadores de deficiência empregados. São dados significativos. No ano passado, três em cada quatro trabalhadores dessa categoria estavam desempregados. Em 2001, mais da metade deles conseguiu uma colocação. O estudo, realizado pela médica Cecília Zavariz, foi feito com base em 564 empresas de médio e grande porte do Estado de São Paulo. No total, empregam 939.326 pessoas, sendo 21.905 portadores de deficiência.
Outra boa surpresa é que as empresas privadas, que antes ignoravam essa questão, passaram a contratar mais. Há uma explicação para essa mudança. Em dezembro de 1999, foi assinado o Decreto 3.298, que regulamentou uma lei de cotas. Ela obriga empresas com mais de cem empregados a preencherem seus cargos com reabilitados ou portadores de deficiência (veja quadro).
O resultado foi imediato. Em 2000, apenas um em cada quatro trabalhadores com algum tipo de deficiência tinha emprego formal. Neste ano, a situação se inverteu: o déficit para atender a lei de cotas caiu para 32%. Ou seja, há 7.939 postos não preenchidos por essas pessoas ante o equivalente a 18.735 vagas do ano passado.
"Para a empresa é mais interessante atender a essa questão social do que resistir. Ela fica com uma imagem melhor", diz Cecília, auditora fiscal do trabalho. Com o decreto, o Ministério do Trabalho e Emprego ficou encarregado de fiscalizar o cumprimento da lei. Como ainda não há pena para quem desrespeitá-la, uma vez que uma portaria foi criada mas não assinada pelo ministro da pasta, os fiscais têm de apresentar as denúncias para o Ministério Público do Trabalho.
Produtividade - O microempresário José Edson Moyses Filho, um dos proprietários da empresa Laffriolée Sobremesas, na Vila Gustavo, zona norte, emprega sete funcionários portadores de necessidades especiais. "Hoje tenho 57% dos meus empregados nesta condição e os resultados são ótimos", diz. Segundo ele, nada foi premeditado. "Contratei um deficiente auditivo para trabalhar na minha confeitaria e ele está conosco até hoje." Depois, Moyses procurou a Apae e contratou outros deficientes. "Eles ajudaram a integrar mais a equipe e com isso melhorou até a produtividade da empresa."
De olho nesse filão, empresas de consultoria de recursos humanos estão criando divisões especiais para atender a essa nova demanda. É uma procura que ocorre dos dois lados, o dos portadores de deficiência e o das empresas.
Até bem pouco tempo, era raro ver pessoas com alguma deficiência na fila de emprego dessas consultorias. Hoje, já é uma cena comum.
No Brasil, estima-se que existam mais de 9 milhões de pessoas em idade ativa com alguma deficiência. Antes da lei, apenas 200 mil possuíam registro em carteira. Com ela, esse mercado entrou em ebulição. O novo papel das empresas de consultoria de recursos humanos é orientar empresários a contratarem esses trabalhadores. "Não é fácil, mas faço um trabalho de sensibilização nas empresas. Vou vender o potencial dessas pessoas e não a sua deficiência", diz Luiza de Paula, gerante da divisão de projetos sociais da Gelre.
"A grande maioria dos nossos clientes cumpre ou já está planejando contratações", afirma Angelina Vinci, diretora de seleção e qualidade da Adecco. Em dois meses de atividade da divisão de projetos especiais, a consultoria já conseguiu empregar mais de 100 portadores de deficiência. Na Gelre, foram 380 em pouco mais de um ano.
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