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Pobreza que dói, preconceito nato
Por Diário de Natal - Francisco Francerle   19 de novembro de 2001
Especial para O POTI
A grande rivalidade entre os dois principais bairros de Natal, que, na época de sua expansão, colocava ‘‘em pé de guerra’’ Canguleiros e Xarias, pode ainda estar refletindo no cotidiano dos natalenses. A briga, tão alardeada pelos historiadores da cidade, era fruto do preconceito entre as classes sociais, que separava, de um lado, os moradores da Cidade Alta, chamados de Xarias, ou comedores de xaréu, um peixe de primeira qualidade e, do outro lado, os moradores da Ribeira, apelidados de Canguleiros, ou comedores de cangulo, peixe de segunda.
Apesar dos anos, o preconceito entre bairros de Natal ainda existe e, o pior, tem sido assimilado por toda sociedade, inclusive pelas próprias autoridades, como um fato normal e pode estar contribuindo para o aumento da delinqüência infanto-juvenil nos bairros de periferia. Com a expansão da cidade, coube à periferia suportar a carga do preconceito que age com um efeito devastador por meio de um fenômeno que imputa ao contingente de crianças e adolescentes, a chamada Identidade Virtual do Delinqüente (IVD).
Gerado a partir do preconceito e do comportamento discriminatório da sociedade em relação às crianças pobres, o fenômeno foi identificado nos bairros da zona Oeste de Natal pela professora Norma Missae Takeuti, do Departamento de Ciências Sociais da UFRN, em seu livro ‘‘No outro lado do Espelho Social - A fratura social e as pulsões Juvenis’’, que será, possivelmente, publicado pela Editora ESCUTA (SP). Pesquisadora da área de sociologia clínica, Norma Takeuti, 49 anos, chegou recentemente da França onde fez doutorado e pós-doutorado, na Universidade Paris 7 - Denis-Diderot, sobre a Exclusão Social no 1º Mundo.
De volta a Natal, a professora Norma Takeuti colheu, durante mais de um ano, experiências junto ao Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua (MNMMR) dos bairros de Quintas e Quilômetro Seis, além de diversas ONGs diretamente ligadas à questão do menor. De acordo com a professora Takeuti, essa Identidade Virtual pode provocar sérias mazelas na vida de um menino de periferia, levando-o até o mundo do crime. ‘‘Tudo acontece como num extermínio simbólico, a criança recebe um legado negativo dos próprios pais, quando nasce, e começa a reproduzir uma imagem social negativa. Se hoje o menino é um bandido mirim, quando crescer, será um bandido adulto’’, esclareceu.
Carência
A professora Norma Takeuti defende que a violência juvenil e pobreza não são fatores determinantes, ou seja, a pobreza não gera diretamente a violência, o que ocorre é um conjunto de carências nos planos material, efetivo e emocional que vão se articular, redundando em obstáculos que acabam levando o jovem à delinqüência.
Desmunidas de equipamentos sociais de proteção, as periferias convivem diariamente com a exclusão social e violência, mas não significa que um bairro pobre seja, necessariamente, violento. Em Natal, o maior contingente populacional reside na Zona Oeste, onde estão os piores indicadores sociais. Quando o natalense fala em Felipe Camarão, Guarapes, Cidade Nova, Bom Pastor e Novo Horizonte, imediatamente vem a imagem associada à violência desses bairros.
‘‘Historicamente, o bairro de Felipe Camarão tem aparecido nas estatísticas policiais com o maior número de violência, mas existe uma distância grande entre a ocorrência, o imaginário e o preconceito’’, explica Takeuti. ‘‘O problema é que existe desconfiança da sociedade com relação aos jovens desses bairros, que, a priori, os consideram violentos e delinqüentes’’.
Para a professora Norma Takeuti, o grande perigo da imputação de uma Identidade Virtual numa criança é que ela se ver como tal e acaba assimilando o que a sociedade está lhe determinando. É o caso do menino J.A.S, do MNMMR que, ao caminhar pela rua, sentiu-se agredido por uma senhora que, ao lhe ver escondeu sua bolsa e tentou sair apressadamente, atribuindo-lhe uma Identidade Virtual de assaltante. ‘‘Eu não estava com essa intenção, mas como a madame Teve medo, assaltei!’’
A grande rivalidade entre os dois principais bairros de Natal, que, na época de sua expansão, colocava ‘‘em pé de guerra’’ Canguleiros e Xarias, pode ainda estar refletindo no cotidiano dos natalenses. A briga, tão alardeada pelos historiadores da cidade, era fruto do preconceito entre as classes sociais, que separava, de um lado, os moradores da Cidade Alta, chamados de Xarias, ou comedores de xaréu, um peixe de primeira qualidade e, do outro lado, os moradores da Ribeira, apelidados de Canguleiros, ou comedores de cangulo, peixe de segunda.
Apesar dos anos, o preconceito entre bairros de Natal ainda existe e, o pior, tem sido assimilado por toda sociedade, inclusive pelas próprias autoridades, como um fato normal e pode estar contribuindo para o aumento da delinqüência infanto-juvenil nos bairros de periferia. Com a expansão da cidade, coube à periferia suportar a carga do preconceito que age com um efeito devastador por meio de um fenômeno que imputa ao contingente de crianças e adolescentes, a chamada Identidade Virtual do Delinqüente (IVD).
Gerado a partir do preconceito e do comportamento discriminatório da sociedade em relação às crianças pobres, o fenômeno foi identificado nos bairros da zona Oeste de Natal pela professora Norma Missae Takeuti, do Departamento de Ciências Sociais da UFRN, em seu livro ‘‘No outro lado do Espelho Social - A fratura social e as pulsões Juvenis’’, que será, possivelmente, publicado pela Editora ESCUTA (SP). Pesquisadora da área de sociologia clínica, Norma Takeuti, 49 anos, chegou recentemente da França onde fez doutorado e pós-doutorado, na Universidade Paris 7 - Denis-Diderot, sobre a Exclusão Social no 1º Mundo.
De volta a Natal, a professora Norma Takeuti colheu, durante mais de um ano, experiências junto ao Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua (MNMMR) dos bairros de Quintas e Quilômetro Seis, além de diversas ONGs diretamente ligadas à questão do menor. De acordo com a professora Takeuti, essa Identidade Virtual pode provocar sérias mazelas na vida de um menino de periferia, levando-o até o mundo do crime. ‘‘Tudo acontece como num extermínio simbólico, a criança recebe um legado negativo dos próprios pais, quando nasce, e começa a reproduzir uma imagem social negativa. Se hoje o menino é um bandido mirim, quando crescer, será um bandido adulto’’, esclareceu.
Carência
A professora Norma Takeuti defende que a violência juvenil e pobreza não são fatores determinantes, ou seja, a pobreza não gera diretamente a violência, o que ocorre é um conjunto de carências nos planos material, efetivo e emocional que vão se articular, redundando em obstáculos que acabam levando o jovem à delinqüência.
Desmunidas de equipamentos sociais de proteção, as periferias convivem diariamente com a exclusão social e violência, mas não significa que um bairro pobre seja, necessariamente, violento. Em Natal, o maior contingente populacional reside na Zona Oeste, onde estão os piores indicadores sociais. Quando o natalense fala em Felipe Camarão, Guarapes, Cidade Nova, Bom Pastor e Novo Horizonte, imediatamente vem a imagem associada à violência desses bairros.
‘‘Historicamente, o bairro de Felipe Camarão tem aparecido nas estatísticas policiais com o maior número de violência, mas existe uma distância grande entre a ocorrência, o imaginário e o preconceito’’, explica Takeuti. ‘‘O problema é que existe desconfiança da sociedade com relação aos jovens desses bairros, que, a priori, os consideram violentos e delinqüentes’’.
Para a professora Norma Takeuti, o grande perigo da imputação de uma Identidade Virtual numa criança é que ela se ver como tal e acaba assimilando o que a sociedade está lhe determinando. É o caso do menino J.A.S, do MNMMR que, ao caminhar pela rua, sentiu-se agredido por uma senhora que, ao lhe ver escondeu sua bolsa e tentou sair apressadamente, atribuindo-lhe uma Identidade Virtual de assaltante. ‘‘Eu não estava com essa intenção, mas como a madame Teve medo, assaltei!’’