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Dança e cidadania
Por Correio da Bahia - Amélia Vieira   20 de novembro de 2001
Balé Folclórico da Bahia oferece cursos gratuitos para jovens carentes
A moda de pagode, axé e samba-reggae se transformou num grande atrativo para dançarinos, seduzidos principalmente pelas quantias mais polpudas pagas nesta área do show biz.
Esses estilos musicais, por outro lado, causaram um sério problema para o Balé Folclórico da Bahia, que perdia seus profissionais para os grupos que surgiam e não conseguia novos dançarinos para substituí-los. A crise, entretanto, teve um aspecto positivo: serviu como estímulo para a busca de uma alternativa, que se concretizou com a criação de uma escola para formar novos bailarinos.
A escola foi criada há quatro anos, inicialmente com 30 alunos. "A idéia era formar um elenco para a companhia, pois tínhamos dificuldade para arregimentar quando fazíamos audições. Então, decidimos formar os bailarinos desde cedo para quando precisássemos mudar ou aumentar o elenco", recorda Walson Botelho, diretor geral do Balé Folclórico da Bahia (BFB), que tem 13 anos de estrada.
O trabalho, contudo, acabou mudando de rumo quando o grupo percebeu que não podia se limitar a preparar profissionais. "Tínhamos que expandir, porque o balé sempre teve uma função social e de educação. Resolvemos integrar esses aspectos à escola. Percebemos que nossa responsabilidade social era maior que a questão artística e tínhamos que preparar os meninos para serem cidadãos", conta Botelho.
Metodologia - Este ano, cem garotos e garotas com idades entre 5 e 14 anos são alunos da escola. O número de participantes foi reduzido pela metade em relação ao ano passado, quando havia 200 pequenos dançarinos, por limitação do espaço físico. Os participantes ensaiam diariamente durante uma hora e meia. A metodologia, explica Botelho, é diferente das academias e escolas de balé nas quais as crianças vão para se divertir. "Usamos técnicas para os ensaios não serem exaustivos, mas utilizamos o mesmo sistema dos Estados Unidos e países europeus em que os exercícios físicos são levados a sério", esclarece o diretor.
Na escola, os menores têm aulas gratuitas de balé clássico, dança moderna, dança afro, capoeira e percussão. Para ingressar no grupo, basta se inscrever, no início do ano. Segundo Botelho, não há teste de aptidão ou crivo de seleção, nem é feita audição para identificar o talento de cada candidato. Essa, aliás, é uma das principais características da iniciativa. Todos os componentes são aproveitados.
Quem não tem o dom para a dança, pode tocar algum instrumento ou cantar. Se não se encaixa em nenhuma destas áreas, pode ser utilizado como contra-regra, maquiador, camareira ou qualquer outra função. "Ninguém é descartado por falta de talento. Tentamos despertar, mas quando percebemos que a pessoa não tem arte na veia vamos encaminhando para outras áreas", explica Botelho.
Aqueles que se desenvolvem como bailarinos, no entanto, são aproveitados profissionalmente na segunda companhia, que é uma espécie de estágio. Fixa, a segunda companhia se apresenta no teatro Miguel Santana, no Pelourinho. Dos 20 componentes, diz o diretor, cerca de 80% são oriundos da escola. Após este aprendizado, os jovens são incorporados à primeira companhia, que é profissional e viaja em turnês. Entre os jovens que hoje são profissionais, destaca Botelho, está Vanderson, o bailarino que participou da disputa global No limite.
Cuidado especial
A única exigência feita para a os integrantes da escola do Balé Folclórico da Bahia é que freqüentem o ensino regular e apresentem seus boletins, que são acompanhados atenciosamente. Essa cuidado especial também é dispensado à família, principalmente por se tratar de crianças que viviam nas ruas ou são filhos de famílias humildes. Por isso, pais e parentes são integrados ao trabalho.
Segundo o diretor do BFB, 95% dos candidatos a bailarinos são negros e 40% são do sexo masculino. "Batalhamos para combater o preconceito racial, as dificuldades com a desigualdade social e o machismo nordestino em relação ao menino fazer balé. Buscamos valorizar a raça negra e desmistificar os preconceitos. Não adianta fazer um trabalho na escola para ser descontruído em casa", afirma.
Prova do sucesso nesse campo é o caso relatado por Botelho. Um carteiro, pai de um dos alunos, costumava levar o filho para a escola e ficava assistindo à aula. Seu encantamento com o balé foi tamanho que ele próprio aderiu ao balé e passou a fazer o curso livre oferecido à noite.
A moda de pagode, axé e samba-reggae se transformou num grande atrativo para dançarinos, seduzidos principalmente pelas quantias mais polpudas pagas nesta área do show biz.
Esses estilos musicais, por outro lado, causaram um sério problema para o Balé Folclórico da Bahia, que perdia seus profissionais para os grupos que surgiam e não conseguia novos dançarinos para substituí-los. A crise, entretanto, teve um aspecto positivo: serviu como estímulo para a busca de uma alternativa, que se concretizou com a criação de uma escola para formar novos bailarinos.
A escola foi criada há quatro anos, inicialmente com 30 alunos. "A idéia era formar um elenco para a companhia, pois tínhamos dificuldade para arregimentar quando fazíamos audições. Então, decidimos formar os bailarinos desde cedo para quando precisássemos mudar ou aumentar o elenco", recorda Walson Botelho, diretor geral do Balé Folclórico da Bahia (BFB), que tem 13 anos de estrada.
O trabalho, contudo, acabou mudando de rumo quando o grupo percebeu que não podia se limitar a preparar profissionais. "Tínhamos que expandir, porque o balé sempre teve uma função social e de educação. Resolvemos integrar esses aspectos à escola. Percebemos que nossa responsabilidade social era maior que a questão artística e tínhamos que preparar os meninos para serem cidadãos", conta Botelho.
Metodologia - Este ano, cem garotos e garotas com idades entre 5 e 14 anos são alunos da escola. O número de participantes foi reduzido pela metade em relação ao ano passado, quando havia 200 pequenos dançarinos, por limitação do espaço físico. Os participantes ensaiam diariamente durante uma hora e meia. A metodologia, explica Botelho, é diferente das academias e escolas de balé nas quais as crianças vão para se divertir. "Usamos técnicas para os ensaios não serem exaustivos, mas utilizamos o mesmo sistema dos Estados Unidos e países europeus em que os exercícios físicos são levados a sério", esclarece o diretor.
Na escola, os menores têm aulas gratuitas de balé clássico, dança moderna, dança afro, capoeira e percussão. Para ingressar no grupo, basta se inscrever, no início do ano. Segundo Botelho, não há teste de aptidão ou crivo de seleção, nem é feita audição para identificar o talento de cada candidato. Essa, aliás, é uma das principais características da iniciativa. Todos os componentes são aproveitados.
Quem não tem o dom para a dança, pode tocar algum instrumento ou cantar. Se não se encaixa em nenhuma destas áreas, pode ser utilizado como contra-regra, maquiador, camareira ou qualquer outra função. "Ninguém é descartado por falta de talento. Tentamos despertar, mas quando percebemos que a pessoa não tem arte na veia vamos encaminhando para outras áreas", explica Botelho.
Aqueles que se desenvolvem como bailarinos, no entanto, são aproveitados profissionalmente na segunda companhia, que é uma espécie de estágio. Fixa, a segunda companhia se apresenta no teatro Miguel Santana, no Pelourinho. Dos 20 componentes, diz o diretor, cerca de 80% são oriundos da escola. Após este aprendizado, os jovens são incorporados à primeira companhia, que é profissional e viaja em turnês. Entre os jovens que hoje são profissionais, destaca Botelho, está Vanderson, o bailarino que participou da disputa global No limite.
Cuidado especial
A única exigência feita para a os integrantes da escola do Balé Folclórico da Bahia é que freqüentem o ensino regular e apresentem seus boletins, que são acompanhados atenciosamente. Essa cuidado especial também é dispensado à família, principalmente por se tratar de crianças que viviam nas ruas ou são filhos de famílias humildes. Por isso, pais e parentes são integrados ao trabalho.
Segundo o diretor do BFB, 95% dos candidatos a bailarinos são negros e 40% são do sexo masculino. "Batalhamos para combater o preconceito racial, as dificuldades com a desigualdade social e o machismo nordestino em relação ao menino fazer balé. Buscamos valorizar a raça negra e desmistificar os preconceitos. Não adianta fazer um trabalho na escola para ser descontruído em casa", afirma.
Prova do sucesso nesse campo é o caso relatado por Botelho. Um carteiro, pai de um dos alunos, costumava levar o filho para a escola e ficava assistindo à aula. Seu encantamento com o balé foi tamanho que ele próprio aderiu ao balé e passou a fazer o curso livre oferecido à noite.