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Cerca de 70% dos brasileiros doaram no último ano, mas valor precisa ser ampliado
Conhecer o perfil, o comportamento e as principais motivações dos doadores é ponto-chave para a ampliação da cultura de doação. Tendo isso em vista, a Charities Aid Foundation, representada no Brasil pelo Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (IDIS), acaba de lançar o “Country Giving Report 2017 – Brasil”, a fim de aprofundar os dados sobre o país levantados inicialmente no World Giving Index 2017.
A pesquisa foi realizada junto a um universo de mais de 1300 brasileiros adultos, maiores de 18 anos, moradores de cidades e com acesso à internet. De acordo com o estudo, 68% dos brasileiros doaram nos últimos 12 meses, seja para igrejas ou organizações religiosas (55%), para uma organização social (53%) ou patrocinando alguém (32%).
O valor médio doado por ano é de R$ 250,00. Porém, ao analisar a doação por renda, percebe-se uma diferença de comportamentos: R$ 120,00 é o valor médio doado pelos que têm renda anual inferior a R$ 10 mil (1,2 % da renda) e R$ 353,00 é o valor médio doado pelos que têm renda anual superior a R$ 100 mil (somente 0,4 % da renda).
“O que se percebe é as pessoas que já passaram por alguma necessidade tendem a ser muito mais solidárias. Isso explica essa diferença da porcentagem da doação na renda. Mas essa diferença de 0,4 para 1,2% é alta. Isso mostra que temos um espaço amplo para crescer a doação entre as pessoas com mais poder aquisitivo. Não há esse costume de fazermos aqui no Brasil a ligação da doação como um percentual da renda, como se faz mais claramente nos EUA, por exemplo. Precisamos mudar isso no Brasil”, pondera Paula Fabiani, diretora-presidente do IDIS.
O apoio às organizações religiosas/igrejas é a causa mais popular no Brasil, representando metade (49%) dos que doaram. O apoio às crianças é a segunda causa mais comum para doações (42%), seguida da ajuda aos pobres (28%). Pesquisa científica, pesquisa médica e desenvolvimento comunitário e ambiente urbano são as causas menos populares junto aos doadores (cada uma com 3%).
Cerca de 1 em cada 20 pessoas mais jovens pesquisadas (com idade entre 18 e 34 anos) diz que apoiou a defesa dos direitos humanos, incluindo direitos LGBT, em comparação com menos de 1 em cada 100 das com idade acima de 55 anos.
As pessoas com renda anual familiar acima de R$100 mil são as mais propensas a doar à proteção do meio ambiente, alcançando 22% em comparação com 6% daquelas com menor renda familiar. As pessoas de rendimentos maiores também são mais propensas a doar às instituições médicas (18% em comparação com 7% das de menor renda), enquanto as de menor renda são mais propensas a doar para moradias populares (12% contra 4% das pessoas de maior renda).
Sobre as formas de doação, a pesquisa identificou diferentes mecanismos: 37% doação em dinheiro; 28% compra de mercadoria; 28% bilhetes de rifa; 26% caixa de doação; 20% online (cartão de crédito); 19% internet/plataformas de pagamento; entre outros.
As motivações para doar identificadas pelo estudo também se assemelham às levantadas pela Pesquisa Doação Brasil: 51% doam porque faz com que se sinta bem; 41% se preocupam com a causa; 40% acredita que todos devem ajudar a resolver problemas sociais; e 40% querem ajudar pessoas menos favorecidas.
“Isso tem muito a ver com a cultura latino-americana. Se olharmos para outros países que também publicaram o relatório, como é o caso da Rússia, esse dado inverte: mais da metade doa porque se importa com a causa”, comenta a diretora-presidente do IDIS.
Sobre o que as fariam doar mais, 59% disseram que o fariam se tivessem mais dinheiro. Entre aqueles com renda familiar anual acima de R$ 100 mil, 23% afirmaram que os incentivos fiscais estimulariam a doação. “Essa é uma boa dica de como podemos trabalhar para ampliar a cultura de doação no país, ou seja, melhorando os incentivos fiscais para pessoas físicas”, acredita Paula Fabiani.
Incentivo para doar
Uma forma de colaborar e doar para as organizações da sociedade civil e seus devidos projetos e programas é justamente por meio do uso dos incentivos fiscais. Por meio da Lei de Isenção Fiscal, todo contribuinte optante pela declaração de Imposto de Renda no modelo completo pode destinar até 8% do Imposto de Renda (IR) devido, sendo 6% para projetos culturais, esportivos ou sociais, 1% para o PRONAS (Programa Nacional de Apoio à Atenção da Saúde da Pessoa com Deficiência) e mais 1% para o PRONON (Programa Nacional de Apoio à Atenção Oncológica).
Com isso, o contribuinte passa a ter autonomia para decidir sobre a destinação de parte do seu imposto. Uma atitude que confere ao cidadão o poder da decisão e a oportunidade de participar efetivamente de ações transformadoras em benefício de milhares de pessoas.
É importante ressaltar que o contribuinte não paga nada pela doação via Imposto de Renda. Na verdade, o que ele faz é antecipar parte do valor a pagar ou a receber do Imposto de Renda devido e tem esse investimento restituído ou abatido do IR no exercício seguinte. O benefício fiscal também pode ser utilizado por pessoa jurídica, mas as alíquotas de dedução são diferentes.
Só para se ter uma ideia, hoje, 11 milhões de pessoas fazem a declaração no modelo completo e, portanto, são potenciais doadores para qualquer projeto social no Brasil. Porém, em 2016, apenas 86 mil pessoas usaram algum tipo de incentivo, ou seja, cerca de 0,7% dos contribuintes. Se todos os potenciais doadores fizessem o seu direcionamento do imposto devido, mais de R$1 bilhão seria direcionado para as iniciativas sociais. Percebe-se uma enorme lacuna e que poderia ser amplamente aproveitada.
Com a chegada do final do ano, diversas instituições têm se mobilizado então para incentivar que mais brasileiros se engajem nessa ação.
O Santander, por exemplo, desenvolve há 15 anos, o Programa Amigo de Valor, que visa mobilizar funcionários e clientes para fazerem o direcionamento de parte do Imposto de Renda devido para os Fundos da Infância e Adolescência dos municípios que participam do Programa.
Em 15 anos, mais de R$ 100 milhões foram direcionados a 199 municípios, 600 projetos e mais de 50 mil crianças, adolescentes e famílias foram beneficiados diretamente pelo Amigo de Valor. A expectativa de atendimento dos projetos em 2017 é de mais de 4 mil meninos e meninas em situação de vulnerabilidade social.
“Em 2002, quando criamos o Programa, a proposta era engajar funcionários e clientes nesta agenda social tão relevante que é a da infância e juventude. Buscávamos que as pessoas pudessem se apropriar de fato dos mecanismos fiscais, desse civismo tributário, tendo a consciência de que cada um pode ser protagonista, fazer algo concreto e não ficar apenas indignada. Agora, vemos o quanto essa agenda está internalizada no Santander. Este ano chegamos a 66% dos nossos funcionários, ou seja, quase 30 mil pessoas, que aderiram ao Amigo de Valor”, comenta Jerônimo Rafael Ramos, superintendente de Desenvolvimento Sustentável do Santander.
Para garantir essa ampla participação – há um aumento de 5% de novos participantes a cada ano – o processo de engajamento é intenso e começa em meados de junho. Neste período, a empresa lança um convite a todos os funcionários que tenham interesse em se tornar um mobilizador do Programa. Esse mobilizador tem o papel de ser a referência do Amigo de Valor em suas áreas. Os funcionários que aderem são capacitados para entender o mecanismo de forma minuciosa, recebem um kit de apoio ao engajamento, e tem todas as ferramentas para apoiar a campanha, realizada internamente em outubro. Neste ano, 700 mobilizadores participaram.
“Eles são os verdadeiros promotores dessa agenda em seus fóruns e ambientes, e também junto aos clientes”, comenta Jerônimo, lembrando que o Programa está aberto a participação de todos os interessados externos ao banco até o dia 1 de dezembro (veja como participar).
Os recursos levantados são direcionados para projetos selecionados pela equipe do Programa. Os municípios com atuação do Santander são convidados a indicar seus projetos, principalmente via Conselho Municipal dos Direitos das Crianças e dos Adolescentes. A partir dessa indicação, a empresa faz uma análise de documentação e outros critérios e, a cada dois anos, são selecionados entre 35 a 50 municípios para participarem, com até dois projetos. Estas iniciativas são acompanhadas de perto e a equipe oferece toda a orientação necessária para uma intervenção mais qualificada.
Herica Aires, coordenadora do Programa, destaca o quanto o Amigo de Valor tem de fato feito um trabalho de educação fiscal, de ampliar o conhecimento do público a respeito dos mecanismos fiscais. Isso se reflete não só no aumento dos participantes, mas no salto da contribuição. Entre 2016 e 2017, houve um aumento de R$1 milhão de doação, tendo em vista que muitos passaram, por exemplo, a aplicar o teto possível. “Com o tempo vamos desmistificando algumas questões sobre este tema e as pessoas passam a ter mais confiança e segurança e doam”, comenta.
Quem decidiu apostar também nesse movimento foi o Instituto Cultural Usiminas, que acaba de lançar o programa ‘Eu Dou Valor’. A expectativa é engajar, por meio da doação do imposto devido, pessoas físicas principalmente nas atividades culturais promovidas pelo Instituto há 23 anos.
“Essa nova fonte de receita também poderá garantir a sustentabilidade das nossas ações. A doação se reverterá em apresentações de espetáculos gratuitos para famílias e escolas; cursos e oficinas para capacitação de professores e arte-educadores; profissionalização de grupos artísticos; movimentação da economia e geração de emprego e renda para artistas, profissionais liberais, comércio e serviços em geral; estímulo ao turismo cultural e de eventos e uma programação permanente e de qualidade para o Centro Cultural Usiminas e Teatro Zélia Olguin, em Ipatinga (MG)”, comenta Penélope Portugal, diretora do Instituto Cultural Usiminas.
Segundo a diretora, o que se percebe ainda é a falta de conhecimento das pessoas sobre os mecanismos existentes e até alguns mitos que precisam ser ainda quebrados. Para reverter esse cenário, a equipe do Instituto está visitando várias cidades para apresentar a iniciativa, assim como disponibiliza no site não só várias informações a respeito, mas também uma calculadora na qual os contribuintes podem fazer as devidas simulações.
“Queremos que seja uma campanha contínua, para que as pessoas possam de fato compreender e aderir ao Programa ao longo dos anos. Esse ano é de intensa mobilização”, comenta Penélope.
Debate online
No próximo dia 28 de novembro, às 17h, o GIFE irá promover um debate online como parte da preparação ao 10º Congresso GIFE. Nesta nova edição, o tema será justamente: “Quais os desafios de doar no Brasil?”, abordando a importância da cultura de doação, da transparência no setor e de um ambiente regulatório favorável.
Irão participar do encontro Nina Valentini (Instituto Arredondar), João Paulo Vergueiro (ABCR e Movimento Por Uma Cultura de Doação), Marcos Kisil (IDIS) e Aline Viotto (GIFE). Os interessados em participar podem fazer sua inscrição aqui.
Além de assistir a transmissão ao vivo pela página, o debate ficará disponível também no canal do Youtube do GIFE.
*Fonte: GIFE – Grupo de Institutos Fundações e Empresas
https://gife.org.br/cerca-de-70-dos-brasileiros-doaram-no-ultimo-ano-mas-valor-precisa-ser-ampliado/
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