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Voluntárias do peito

Por Diário do Nordeste    3 de dezembro de 2001
Em nome da melhor qualidade de vida para pacientes e acompanhantes dos hospitais públicos, cada vez mais iniciativas individuais e de grupos não-governamentais envolvem a sociedade brasileira

Em nome da melhor qualidade de vida para pacientes e acompa-nhantes dos hospitais públicos, cada vez mais iniciativas individuais e de grupos não-governamentais envolvem a sociedade brasileira. Em Fortaleza, é crescente o contingente de pessoas engajadas nesse processo, atenuando as deficiências do sistema de saúde pública. A Associação de Motivação e Auto-Ajuda Renovadora (AMAR) e o físico indiano Harbans Arora são alguns destes agentes voluntários que, como anjos da guarda de carne e osso, procuram velar pela saúde de uma população carente, que vê, assim, atenuadas as perspectivas de seu cotidiano.

Seguir em frente, integrando forças para superar uma adversidade inesperada, difícil, mas amplamente passível de ser redimensionada através dos cuidados médicos, da solidariedade e da valorização conjunta da auto-estima. Essa vem sendo a preocupação de um grupo de ex-portadoras de câncer de mama, cuja interação completou dois anos em outubro passado.

Como complementação ao trabalho desenvolvido por alguns dos mais importantes profissionais da área, a Associação de Motivação e Auto-Ajuda Renovadora - AMAR - reúne, mensalmente, uma média de 40 ex-portadoras de câncer de mama, além de demonstrar sua solidariedade, oferecendo sua motivação voluntária junto às pacientes do Hospital Geral de Fortaleza.

De cara limpa, essas mulheres e homens estão mostrando que o estigma daquele “problema” deve ser encarado de frente, ainda que muitos insistam em velar, denominando a doença, o câncer, de “c.a” ou de outros eufemismos. “O grupo surgiu com o incentivo do terapeuta holístico Harbans Arora, responsável pelas sessões de relaxamento e meditação”, ressalta a ginecologista Ilná Escóssia, uma das coordenadoras da AMAR.

A idéia é não estigmatizar o câncer de mama, daí a denominação: Associação de Motivação e Auto-Ajuda Renovadora. De estatuto pronto, o grupo está concluindo o seu processo de efetivação como Organização Não-Governamental. As reuniões são mensais, abrangendo temas diversos. Médicos são convidados para explanar as referências científicas mais atuais.

Em um de seus recentes encontros, a AMAR reuniu seus associados, cerca de 40, para tratar sobre a yoga-terapia-hormonal. Noutra assembléia, durante uma palestra na Sociedade de Ginecologia, foi discutida a alternativa do uso de hormônios naturais. Tema delicado, uma vez que as mulheres que tiveram câncer de mama ou de útero não podem submeter-se a terapias tradicionais de reposição hormonal.

“A falta de hormônios femininos é um problema para o mastologista enfrentar, o que gera uma série de obstáculos. Por outro lado, ele não pode abrir mão dos hormônios porque ele pode estimular o retorno do câncer, na outra mama”, explica Fernando Mello, presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia, disposto a dar continuidade às campanhas que visam a alertar sobre o diagnóstico precoce da doença, promovendo a sua cura e até mesmo evitando a mastectomia - cirurgia que retira a mama, um dos maiores traumas que a AMAR busca superar.

Um pouco de estatística nos revela que, desde 1993, o câncer de mama ultrapassou, praticamente em todo o país, o índice de câncer de cólon de útero. “Ele é o mais incidente. Apenas nas regiões menos desenvolvidas do país, o Centro-Oeste e o Norte, ele perde para o cólon de útero”. A estimativa do Ministério da Saúde para este ano é que o país registre 31 mil novos casos de câncer de mama, além de oito mil e duzentos óbitos, em decorrência da doença.

“A média vem crescendo e também acometendo pessoas mais jovens, em todo o país. Mas, há mais discussão. Antigamente, se evitava até de falar sobre o câncer de mama. Hoje, você vê uma reunião dessa, de um grupo de ajuda mútua, levando otimismo. Então, tudo isso revela que, antigamente, tanto a incidência era menor, como as pessoas não apareciam. Hoje se fala abertamente do câncer, do seu diagnóstico precoce e das formas de evitar a doença”, sustenta Fernando Mello.

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