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A satisfação de ajudar

Por Editorial - Jornal O Estado de S. Paulo   6 de dezembro de 2001
O advogado José Carlos Rios trocou, há 12 anos, o cotidiano dos processos judiciais pelo trabalho de alimentar 600 crianças, fornecendo cestas básicas às suas famílias todos os meses. A atividade desse advogado não é diferente da exercida por Abadia Albanesi, três filhos adolescentes, que organiza o atendimento de 2 mil crianças e jovens carentes distribuídos em 8 creches e 3 centros de juventude. Por trás do trabalho dessas pessoas não há grandes financiadores ou projetos mirabolantes. Há apenas e tão-somente trabalho voluntário e solidariedade. Rios e Abadia, na verdade, são apenas dois entre milhares de voluntários em todo o País, movidos pela vontade de ajudar os menos favorecidos. O empreendimento de Rios sustenta centenas de crianças, recolhendo 4,5 toneladas de alimentos e contribuições mensais de assalariados anônimos (que vão de R$ 5 até R$ 150) e de uns poucos empresários. D. Abadia resume sua fonte de receita em poucas palavras: "Fazemos as coisas juntando o pouquinho de muitos." São apenas dois exemplos entre os vários casos de ajuda voluntária reunidos na reportagem de Rosa Bastos publicada na edição de domingo do Estado.

Como já observou o padre Joacir Della Giustina, coordenador nacional da Pastoral do Menor, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), na sociedade brasileira está se disseminando, com muita rapidez, o que ele chama de "cultura da solidariedade". Se a exclusão social aumenta, constatou o padre, "as pessoas mostram maior consciência a respeito da solidariedade e da justiça social". A Pastoral do Menor conta com 1.500 voluntários para atender 1,5 milhão de crianças e, por diversas vezes, foi obrigada a recusar a ajuda de novos voluntários. O processo não é diferente com a Pastoral da Criança, da mesma CNBB, que já conta com 150 mil voluntários para ajudar sua tarefa social. O governo brasileiro, aliás, apresentou o trabalho da Pastoral da Criança como candidato ao Prêmio Nobel da Paz deste ano, prova da eficácia do trabalho desenvolvido por esses voluntários.

A "cultura de solidariedade" explica o sucesso do trabalho do Comitê Brasileiro do Ano Internacional do Voluntário instituído pela ONU. O Comitê constatou que 22% dos adultos brasileiros estão engajados em algum tipo de trabalho voluntário. A França tem 23% de sua população adulta com a mesma preocupação. O Brasil já é o quinto país do mundo em número de pessoas engajadas em projetos sociais. Adelaide Barbosa Fonseca, coordenadora do Centro do Voluntariado de São Paulo, revelou que, no ano passado, 4.872 pessoas assistiram à palestra de introdução ao trabalho voluntário dada pela entidade; até outubro deste ano o número de inscritos já havia alcançado 15.830 pessoas interessadas em ajudar o próximo.

Ainda há muito o que fazer para ampliar a "cultura da solidariedade" entre nós. Mas o que já está sendo feito é impressionante. O advogado José Rios definiu seu trabalho como "uma libertação", ao descrever a festa de Natal que fará para 900 pessoas. Segundo ele não haverá melhor paga do que o sorriso de quem recebe ajuda desinteressada e um pouco de solidariedade.

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