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Cidadania e voluntariado ganham nova fase e viram tecnologia social

Por MARCELO BARTOLOMEI / Folha Online   7 de dezembro de 2001
O que era cidadania e voluntariado faz parte hoje de uma revolução social, ainda em início. A nova fase transformou tudo em tecnologia social, nada mais que projetos comunitários que comprovadamente deram certo e que agora podem ser multiplicados para atingir um público maior.

A largada foi dada pela Fundação Banco do Brasil, que disponibilizou em novembro passado um banco de dados com 128 tecnologias sociais, escolhidas entre 523, descobertas em um prêmio criado pelo instituto, que certificou os projetos e premiou os vencedores com R$ 50 mil cada e com o mais importante instrumento para este tipo de trabalho: a difusão das idéias.

Antes, a fundação apenas financiava projetos sociais. Agora, passou a apoiar e difundir trabalhos que já existem por todo o país. É o caso do projeto Vela Cloradora, que tem ajuda da Universidade Federal do Maranhão.

Cerca de 200 mil famílias carentes usam atualmente um sistema que trata a água e evita a morte por cólera no Maranhão. É uma prática doméstica, desenvolvida a baixo custo com a utilização de um filtro de barro. O equipamento, criado a partir de uma idéia simples, é composto por duas velas cerâmicas, uma com a função de clorar a água e a outra de dilui-la, mantendo os níveis de cloro livre em limite recomendado pela OMS (Organização Mundial de Saúde).

No interior da vela, há uma cápsula com uma mistura de hipoclorito de cálcio e areia lavada que torna a água esterelizada. A partir disso, os filtros com as velas são distribuídos nas comunidades.

O Banco de Tecnologias Sociais atua nas áreas de meio-ambiente, educação, saúde, renda, água, habitação, energia e alimentação. "Até 99, tínhamos outra função. Financiávamos projetos de terceiros. Em 2001, passamos a ser difusores e articuladores de soluções para problemas das comunidades. Nossa missão de 99 para cá é contribuir com o desenvolvimento social do país", disse Luís Fumio Iwata, diretor de Ciência, Tecnologia e Cultura da Fundação Banco do Brasil.

Com R$ 900 mil -orçamento da Fundação Banco do Brasil para gastar com o prêmio de tecnologias sociais- os 15 finalistas do prêmio ganharam 2.000 folders sobre seus projetos e os três vencedores vão levar à França suas experiências em março de 2002.

Na Paraíba, 1,5 mil famílias tomam atualmente água potável graças ao projeto Cisterna de Placas Pré-moldadas, criado na comunidade. A proposta, uma das 15 finalistas do prêmio do Banco do Brasil, consiste em captar água da chuva e gerenciá-la para o seu consumo moderado em época de seca.

Feitas de placas de cimento ao invés de tijolos, as cisternas recolhem a água da chuva represada no telhado das casas, armazenando quase 24 milhões de litros e beneficiando mais de 41 mil pessoas.

Todos os projetos do Banco de Tecnologias Sociais provam que com idéias simples é possível ajudar comunidades carentes e resolver problemas de infra-estrutura públicos. É o que aconteceu com o Projeto Habitacional Cajuru, premiado pela fundação e desenvolvido pela Prefeitura de Sacramento (MG), com apoio da população.

Um mutirão construiu conjuntos habitacionais com casas de 40 metros quadrados por R$ 4.000. O sistema é modular, de fácil encaixe, com tijolos produzidos pelas próprias famílias, o que facilita a montagem da alvenaria e reduz o custo final. Por R$ 100 o metro quadrado, é possível ter uma casa com dois quartos, sala, cozinha e banheiro. Em Sacramento, mais de cem casas já foram entregues e outras 300 estão em construção.

"Trabalhar em rede é o caminho para o sucesso. Se juntarmos um grande número de voluntários a uma tecnologia, atendemos a um público específico e multiplicamos o trabalho", afirmou Maria Lúcia Meirelles Reis, diretora do Centro de Voluntariado de São Paulo, uma das pessoas que encabeça, ao lado de Milú Vilela, o Comitê Brasileiro do Ano Internacional do Voluntariado.

"Estamos entrando numa nova fase. A ONG não pode trabalhar mais dentro de seus muros", disse Maria Lúcia, para quem o que deu certo deve ser difundido e multiplicado.

Outro projeto premiado pela fundação foi o Sistema PCHS na Aquicultura Utilizando Rejeito de Dessalinizador. O nome complicado traduz um processo que transforma a água salobra em água potável e ainda impulsiona a produção de peixe, camarão, halófitas (um vegetal) e sal, utilizando resíduos para a geração de alimentos, trabalho e renda.

A idéia da Fundação Banco do Brasil ganha em 2002 novo apoio da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura), que se interessou pelo trabalho e solicitou versões em inglês e em espanhol para o Banco de Tecnologias Sociais, que pode ser acessado na internet (www.cidadania-e.com.br).

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