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Avanços ainda estão distantes de países pobres
Por O Estado de São Paulo    8 de outubro de 2001
O risco é de exclusão biotecnológica, mas o Brasil é apontado como modelo
HERTON ESCOBAR
Os países ricos precisam agir imediatamente para garantir que os avanços da genômica na área de saúde beneficiem também os países pobres. Só assim poderão evitar um cenário de exclusão biotecnológica, como já ocorre com as tecnologias de informação e agricultura. Como solução, dois especialistas propõem a criação de um fundo internacional de US$ 200 milhões para financiar o desenvolvimento de produtos biotecnológicos que beneficiem as populações pobres.
"Aprendemos lições importantes com os avanços científicos do passado", disse ao Estado o professor e médico Abdallah Daar, diretor do Programa em Ética Aplicada e Biotecnologia da Universidade de Toronto. "Ou fazemos alguma coisa rápido ou os países pobres ficarão para trás, de novo." Daar e o colega Peter Singer assinam um artigo sobre o tema na última edição da revista Science.
A maior parte da pesquisa genômica ocorre nos países do Primeiro Mundo e portanto busca soluções para doenças como câncer e mal de Parkinson, enquanto doenças como a malária e a dengue são renegadas a segundo plano. É a chamada "relação 10/90": 90% dos investimentos em pesquisa para os problemas de 10% da população, dizem os autores. Segundo Daar, é preciso capacitar os países em desenvolvimento para criar bases próprias de pesquisa, como já ocorre no Brasil.
O autor elogia a qualidade da ciência brasileira e destaca o trabalho da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) como exemplo de biotecnologia bem aplicada.
"Trabalhamos principalmente com as 'doenças negligenciadas', como malária e febre amarela", diz o presidente da instituição, Paulo Buss. "É o Terceiro Mundo que precisa correr atrás dos seus problemas e resolvê-los."
Inovação - O fundo internacional serviria para financiar inovações tecnológicas direcionadas para os problemas dos países pobres. O dinheiro não seria aplicado em pesquisa, mas no desenvolvimento de produtos com base em pesquisas já concluídas, mas não aproveitadas por falta de investimentos. Daar cita o exemplo de Cuba, que possui 400 patentes de biotecnologia, mas usa apenas 5. Uma delas é a da única vacina contra a meningite tipo B.
"Não estamos falando de doações, estamos falando de investimentos em tecnologias que oferecem retorno financeiro", ressalta Daar. "Fazer uma doação é como dar um peixe a uma pessoa faminta. O que queremos é dar a essa pessoa uma vara de pescar para ela possa alimentar sua família por conta própria."
Os países ricos precisam agir imediatamente para garantir que os avanços da genômica na área de saúde beneficiem também os países pobres. Só assim poderão evitar um cenário de exclusão biotecnológica, como já ocorre com as tecnologias de informação e agricultura. Como solução, dois especialistas propõem a criação de um fundo internacional de US$ 200 milhões para financiar o desenvolvimento de produtos biotecnológicos que beneficiem as populações pobres.
"Aprendemos lições importantes com os avanços científicos do passado", disse ao Estado o professor e médico Abdallah Daar, diretor do Programa em Ética Aplicada e Biotecnologia da Universidade de Toronto. "Ou fazemos alguma coisa rápido ou os países pobres ficarão para trás, de novo." Daar e o colega Peter Singer assinam um artigo sobre o tema na última edição da revista Science.
A maior parte da pesquisa genômica ocorre nos países do Primeiro Mundo e portanto busca soluções para doenças como câncer e mal de Parkinson, enquanto doenças como a malária e a dengue são renegadas a segundo plano. É a chamada "relação 10/90": 90% dos investimentos em pesquisa para os problemas de 10% da população, dizem os autores. Segundo Daar, é preciso capacitar os países em desenvolvimento para criar bases próprias de pesquisa, como já ocorre no Brasil.
O autor elogia a qualidade da ciência brasileira e destaca o trabalho da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) como exemplo de biotecnologia bem aplicada.
"Trabalhamos principalmente com as 'doenças negligenciadas', como malária e febre amarela", diz o presidente da instituição, Paulo Buss. "É o Terceiro Mundo que precisa correr atrás dos seus problemas e resolvê-los."
Inovação - O fundo internacional serviria para financiar inovações tecnológicas direcionadas para os problemas dos países pobres. O dinheiro não seria aplicado em pesquisa, mas no desenvolvimento de produtos com base em pesquisas já concluídas, mas não aproveitadas por falta de investimentos. Daar cita o exemplo de Cuba, que possui 400 patentes de biotecnologia, mas usa apenas 5. Uma delas é a da única vacina contra a meningite tipo B.
"Não estamos falando de doações, estamos falando de investimentos em tecnologias que oferecem retorno financeiro", ressalta Daar. "Fazer uma doação é como dar um peixe a uma pessoa faminta. O que queremos é dar a essa pessoa uma vara de pescar para ela possa alimentar sua família por conta própria."