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O 11 de setembro e a pobreza

Por Correio Braziliense    16 de outubro de 2001
Quando os Estados Unidos espirram, o mundo tem pneumonia. A afirmação tornou-se lugar comum ao se falar na influência do desempenho da economia americana no comportamento das economias do resto do planeta. Depois dos atentados de 11 de setembro, os Estados Unidos foram acometidos de pneumonia aguda. Em conseqüência, as demais nações, sobretudo as pobres, vão padecer de infecção. Algumas brandas. Outras graves.

Estudos do Branco Mundial mostram, em cifras, o impacto do ataque a Nova York e Washington sobre a pobreza global. Antes de 11 de setembro, a desaceleração das economias dos Estados Unidos, Japão e União Européia se vinha refletindo no crescimento dos países emergentes. Dos 5,5% previstos para 2001, recuou-se para 2,9%. Em 2002, o percentual chegaria a 4,3%. Esse número, devido ao retardamento da recuperação dos países ricos, poderá ser de 0,5 a 0,75 ponto percentual menor. Em outras palavras: os pobres ficarão mais pobres.

As conseqüências do terror terão um custo alto. A agressão aos Estados Unidos ceifou mais de seis mil vidas. As bombas e mísseis contra o Afeganistão mataram, segundo fontes americanas, 300 pessoas. É possível que o balanço seja bem maior. O Unicef calcula que o inverno e a fome, em decorrência da desarticulação do que restava da economia afegã, responderão, nos próximos meses, pelo óbito de cem mil crianças.

Fora do teatro de guerra, o número de vítimas se multiplicará. Com a perda de renda, o Banco Mundial calcula que, nas nações pobres, se adicionarão entre 20 mil e 40 mil mortes de crianças. Dez milhões a mais de pessoas engrossarão o contingente dos que vivem com até US$ 1 por dia. Mais: se houver ruptura das estratégias em prol do desenvolvimento, grandes massas irão cair para a linha de pobreza.

O quadro preocupa. Mas os Estados Unidos dispõem de excepcional arsenal terapêutico. Nele se inclui keynesiana injeção de recursos governamentais e redução de juros, além do estímulo indireto às indústrias bélica e de equipamentos de segurança. A demanda agregada desses setores está sendo estimulada. Com esses recursos e outros que a pujança do país propicia, a recuperação tem condições de ocorrer no curto prazo.

Para o Brasil, a crise pode representar uma oportunidade de crescimento das exportações. Vários países muçulmanos terão dificuldade de fazer comércio com Washington. Brasília terá chances de deslocar concorrentes americanos e aproveitar nichos do mercado para exportar. Alimentos, automóveis, equipamentos industriais (sobretudo de segurança) oferecem boas perspectivas neste momento difícil. Quando a economia americana recuperar a saúde, o Brasil terá mais facilidade de aproveitar de modo pragmático as chances propiciadas pela retomada do crescimento econômico. É importante não deixar o bonde passar.

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